Se comunicar de maneira eficaz, utilizando diferentes linguagens, desde a verbal e escrita até a visual e digital, é essencial para o desenvolvimento dos nossos estudantes. Toda obra de arte que encontramos no mundo tem muito a comunicar e muito a ensinar para além dos museus e galerias. Elas evidenciam como a comunicação, a cultura e a criatividade vão além das páginas e palavras. Tudo isso também está presente nas telas e pincéis e na vida real.

Foi pensando na riqueza das obras de arte que o Movimento pela Base e O Parla se juntaram para mostrar como a comunicação, o pensamento crítico, o repertório de mundo, o constante aprendizado e outras competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), podem ser trabalhadas em sala de aula de maneira criativa utilizando a arte e cultura como aliadas. E esse será o tema do próximo “Papo da Base: BNCC e Criatividade – Construindo Habilidades para o Século XXI”, que acontecerá em 10 de outubro e será transmitido online.

O encontro contará com a participação especial do educador e criador de conteúdo Hildon Vital de Melo, mais conhecido como Camaleão Albino e criador do projeto O Parla, que realiza encontros monitorados em museus de São Paulo e reúne mais de 100 mil seguidores nas redes sociais. Em seu workshop ele vai falar sobre como a criatividade pode ser desenvolvida de maneira prática nas aulas, tendo a BNCC como bússola, seja nos componentes de Linguagens e Ciências Humanas ou de áreas como Matemática e Ciências Biológicas.

 

INSCREVA-SE NO: “Papo da Base: BNCC e Criatividade – Construindo Habilidades para o Século XXI”

 

Mas por que a criatividade é importante na educação?

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) reconhece a criatividade como uma competência essencial para nosso século, especialmente no contexto da educação. De acordo com a organização, ela é fundamental para ajudar os estudantes a resolverem problemas complexos, inovarem e se adaptarem às rápidas mudanças da sociedade.

A nível nacional, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também destaca a criatividade de forma explícita na Competência Geral que trata da promoção do pensamento científico, crítico e criativo. Ela ressalta a importância de os alunos serem capazes de “exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas”.

Nesse sentido, orienta que a criatividade deve ser estimulada em todas as disciplinas, não apenas nas áreas tradicionalmente ligadas às artes, propondo que os alunos desenvolvam essa competência em matemática, ciências da natureza, linguagens e outras áreas, o que incentiva a resolução criativa de problemas em diferentes contextos.

 

Saiba mais sobre o convidado do Papo de Base

O criador da rede O Parla começou a carreira acadêmica na Universidade Federal de São Paulo, onde estudou filosofia, disciplina que lecionou no Ensino Fundamental e Médio até 2022. Ele conta que foi nessa experiência como professor que encontrou inspiração para tratar sobre arte, cultura, história e filosofia com um olhar interdisciplinar e incentivando a criatividade.

“A criatividade tem que ser entendida de uma maneira bem mais ampla, porque eu posso começar uma aula sobre a história do Brasil mostrando um quadro, por exemplo. Desse quadro, posso migrar para um debate que há na história sobre o tema, que vai gerar uma certa polêmica entre os alunos, e eles podem levar isso para um processo criativo prático, realizando uma entrevista sobre o tema […]. Acredito que a criatividade está muito mais no modo como você apresenta o assunto do que no assunto em si. A abordagem é muito mais importante do que você querer dar muitos conteúdos em uma única aula”.

Nesse processo, ele conta que buscava dialogar o conteúdo previsto para suas aulas com temas mais ligados ao cotidiano aos alunos, trabalhando mitologia grega, por exemplo, com recursos de videogames ou debatendo história da música com ajuda de dispositivos como toca discos e fita cassete até mp3 e streaming online.

“Como eu vou fazer para que um garoto de 13, 14 anos entenda o que eu falo? Eu tenho que sair de mim para entendê-lo e eu tenho que lembrar de mim, de como eu era com 13 anos. Para que eu tenha os estudantes que eu nunca fui, eu tenho que ser, de certa forma, o professor que eu nunca tive. Eu tenho que trazer diversas percepções de mundo. A criatividade está em a gente às vezes sair da lousa e ter contato com outros materiais [que eles não têm contato normalmente]”.

Hildon Vital de Melo defende que essa criatividade precisa permear a abordagem de diferentes temas, tanto para ajudar os estudantes a engajarem no conteúdo quanto para ajudá-los a desenvolver sua própria criatividade. “Um professor de exatas pode pegar, por exemplo, um quadro do Rafael, uma pintura do artista Rafael, em que haja os temas da matemática, porque eles existem ali. Nesses quadros existe a ideia de proporção, existe o ponto de fuga. Então, o professor ou a professora mais atenta consegue aplicar muito desses conteúdos nas aulas”. 

Nesse sentido, ele fala também da importância de variar o ambiente de aprendizagem, entendendo-o como um propulsor da criatividade. 

“Eu trabalhei muitos anos com adolescentes e pré-adolescentes. Qualquer proposta que seja para sair da sala de aula, eles já estão amando, desde bater bola até dar uma volta no quarteirão. Eu lembro que eu dava algumas aulas de filosofia antiga no pátio. Eles amavam a aula simplesmente pelo fato de estarem no pátio, não estarem na sala. Eu creio que a sala seja importante para criar uma forma de comportamento, ela é o espaço democrático que a gente vive na escola, mas ela também pode ser muito confusa, muito opressora para pessoas que são cada vez mais agitadas, para estudantes que são cada vez mais multifocais, digamos assim.”

Ele destaca ainda a necessidade de trazer uma visão que não seja colonizadora da arte. “A gente sabe da contribuição artística do continente europeu, mas a gente também critica isso, porque a forma como se apresenta os museus europeus é uma. Mas um museu na América Latina, um museu no Brasil, vai falar de uma outra forma de vida, de uma outra linguagem”, explica e completa:

“Eu gosto muito de levar as pessoas ao Museu Afro justamente porque as pessoas passam a entender que a África não é só uma palavra que a gente fala. A África é um continente com centenas de culturas que fogem à nossa percepção. E o interessante é porque nós, como brasileiros, estamos no país mais africano, fora do continente africano e a gente às vezes não se dá conta disso”.

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