A competência geral Autoconhecimento e autocuidado da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) busca ajudar os alunos a se conhecerem melhor, identificando seus próprios sentimentos, emoções, habilidades e limitações. Esse processo de autoconhecimento é fundamental para que as crianças e jovens desenvolvam uma visão clara de quem são e aprendam a tomar decisões conscientes, tanto no campo pessoal como nas relações com os outros.
Além disso, o autocuidado envolve práticas que favorecem a saúde física, emocional e mental, promovendo hábitos saudáveis e responsáveis. Essa competência incentiva o respeito ao próprio corpo, a consciência de seus limites e a valorização do bem-estar, o que é essencial para formar indivíduos mais equilibrados, confiantes e preparados para lidar com os desafios do dia a dia.
A BNCC marca a primeira vez que esse tema aparece de forma tão clara e estruturada nas diretrizes educacionais do Brasil. Embora aspectos relacionados ao autocuidado e ao desenvolvimento pessoal tenham sido abordados de maneira indireta em currículos anteriores, a Base traz uma abordagem mais explícita e integrada, reconhecendo a importância de desenvolver essas habilidades desde a infância, junto com as competências cognitivas. Isso reflete uma visão mais ampla da educação, que vai além do aprendizado acadêmico e valoriza o bem-estar integral dos alunos.
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“Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.”
Como coloca o texto da BNCC, a competência oito, Autoconhecimento e autocuidado, fala da capacidade dos estudantes de se conhecerem, se apreciarem, saberem lidar e cuidar da sua saúde e das suas emoções. O desafio de inserir essa competência nos currículos está relacionado ao fato de que muitas escolas já trabalham com essa abordagem, porém, de maneira não intencional. Mas a verdade é que ela pode aparecer em todos os componentes.
Nas Ciências da Natureza e Educação Física, por exemplo, vale inserir uma série de habilidades relacionadas à capacidade do estudante de conhecer o seu corpo, de cuidar bem dele, de se afastar de situações risco, de desenvolver o seu bem-estar e qualidade de vida, mas também de lidar com as mudanças próprias do crescimento. Já os currículos de Artes e Ciências Humanas podem contribuir principalmente com a questão do autoconhecimento, da construção de valores, compreender as próprias origens e as influências da cultura, da família e do mundo em que se vive na construção da identidade.
Ao trabalhar essa competência geral, a escola também pode abrir espaço para que os estudantes pensem sobre as suas fragilidades e suas potências, desenvolvendo cada vez mais um sentimento de autoestima e de apreciação por si. Até o currículo de Matemática pode ajudar muito no desenvolvimento da autoconfiança, pois quanto mais complexos problemas que os estudantes conseguem resolver e quanto mais eles acreditam que são capazes de resolver problemas, mais eles se sentem confiantes para resolver os grandes problemas que eles enfrentarão na sua vida.
Cabe ainda ressaltar que questões como a autoestima, autoconfiança e autoconhecimento acontecem também nas oportunidades que são criadas no ambiente escolar, por isso, a relação que o professor estabelece com seus alunos e que os alunos que estabelecem entre si, é determinante não só para a aprendizagem e o desenvolvimento, mas para o exercício dessas capacidades.
Para apoiar redes, escolas e professores a compreender as Competências Gerais da Base Nacional Comum Curricular e como elas progridem ao longo da Educação Básica, especialistas do Movimento pela Base e do Center for Curriculum Redesign analisaram referências curriculares mapeadas no Brasil e no exterior e criaram um material orientador. Ele detalha as dimensões e subdimensões que compõem cada uma das 10 Competências Gerais da BNCC, indicando como elas podem evoluir da Educação Infantil até o Ensino Médio.
Vale frisar que essa é uma divisão didática apenas, para ajudar a construir esse tema de maneira mais clara, pois todas as competências gerais se interrelacionam e não precisam ser desenvolvidas de forma isolada!
Acesse aqui o material completo!
No caso da competência Autoconhecimento e autocuidado, o documento propõe apenas uma dimensão e um total de sete subdimensões. Veja mais sobre elas abaixo:
- Autoconsciência
Consciência coerente e integrada sobre si mesmo e sobre como sua identidade, perspectivas e valores influenciam sua tomada de decisão.
- Autoestima
Compreensão e desenvolvimento de pontos fortes e fragilidades de maneira consciente, respeitosa, assertiva e constante para alcançar realizações presentes e futuras.
- Autoconfiança
Utilização de seus conhecimentos, habilidades e atitudes com confiança e coragem para aprimorar estratégias e vencer desafios presentes e futuros.
- Equilíbrio emocional
Reconhecimento de emoções e sentimentos, bem como da influência que pessoas e situações exercem sobre eles. Manutenção de equilíbrio em situações emocionalmente desafiadoras.
- Saúde e desenvolvimento físico
Capacidade de lidar com mudanças relativas ao crescimento. Avaliação de necessidades e riscos relativos à saúde. Incorporação de estratégias para garantir bem-estar e qualidade de vida.
- Atenção plena e capacidade de reflexão
Manutenção de atenção. Reflexão sobre a sua própria maneira de pensar.
A BNCC destaca que competências gerais da Educação Básica “inter-relacionam-se e desdobram-se no tratamento didático proposto para as três etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), articulando-se na construção de conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores, nos termos da LDB.”
Na prática, significa que as propostas e as expectativas devem ser adequadas a cada etapa de ensino, garantindo um trabalho constante ao longo de toda a escolarização.
No caso da competência geral Autoconhecimento e autocuidado, por exemplo, na subdimensão da autoconsciência, espera-se que o estudante comece por construir sua identidade pessoal a partir do reconhecimento de suas características e seus interesses. Aos poucos, poderá reconstruir sua identidade pessoal na relação com seus pares e adultos, sabendo diferenciar-se em comparação com os outros e construir um senso integrado de si mesmo em relação aos outros e uma autoconsciência de como sua identidade, perspectiva e valores influenciam sua tomada de decisão.
No aspecto de saúde e desenvolvimento físico, espera-se que nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental o estudante reconheça que está crescendo e se transformando, ao mesmo tempo que aprende a cuidar de sua saúde física e do seu bem-estar. No Ensino Médio, espera-se que ele reconheça, acolha e lide com mudanças relativas à juventude e aos fatores que afetam o seu crescimento pessoal, físico, social, emocional e intelectual, além de saber avaliar necessidades e riscos relativos à sua saúde e identifica estratégias para garantir o seu bem-estar e desenvolvimento pessoal, físico, social, emocional e intelectual ao longo de sua vida, elaborando estratégias para suprir as suas necessidades atuais e futuras.
Esses são apenas exemplos para mostrar como o tema permeia todas as etapas de ensino e os componentes curriculares. Por ser uma proposta interdisciplinar, há uma infinidade de projetos que podem ser aplicados a depender de cada contexto escolar.
Uma das grandes inovações da BNCC foi promover a aprendizagem significativa, que vai além de apenas decorar fatos ou fórmulas. Essa proposta já vinha sendo defendida há anos na educação e trazer ela à tona nos currículos é uma maneira de colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem.
As competências gerais traduziram essa intenção dentro da BNCC, promovendo Educação Integral, a conexão com o mundo real, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, a preparação para o futuro, o fomento ao pensamento crítico e criativo e a promoção da cidadania, dentre outros aspectos.
Aqui no Movimento pela Base construímos um documento bastante prático na compreensão de cada competência e suas subdimensões. Ele mostra que as escolas podem traduzir as competências gerais em atividades que levem em conta os seguintes preceitos:
Para conhecer o material completo, clique aqui!
Você pode se aprofundar mais neste tema com uma seleção de arquivos que separamos a seguir:
Curso online, gratuito e com certificação sobre as Competências Gerais. O curso foi elaborado pela Nova Escola em parceira com a Fundação Lemann e o Instituto Inspirare, e contou com apoio técnico do Movimento pela Base. A ideia é orientar o planejamento de práticas pedagógicas que trabalhem com as Competências ao longo de toda Educação Básica.
Em parceria com a organização Center for Curriculum Redesign, preparamos a publicação “Dimensões e Desenvolvimento das Competências Gerais da BNCC”. Com orientações técnicas que trazem boas referências, o documento ajuda a definir alguns marcos, que permitem acompanhar a progressão das competências ao longo dos anos escolares e saber como elas evoluem.
Produzimos também a série As Competências Gerais no currículo. São 10 vídeos explicando como inserir e trabalhar cada uma das competências gerais nos documentos curriculares. Indicando com que áreas do conhecimento cada uma delas está mais intimamente relacionada, trazendo exemplos de práticas pedagógicas e de que habilidades devem ser inseridas nos currículos, é possível ter uma visão mais concreta de como as competências gerais vão estar presentes na formação dos alunos.