Em Cairu (BA), há uma grande mobilização para a construção de um documento curricular municipal: o Movimento Curriculante Cairu. São mais de 200 pessoas diretamente envolvidas na elaboração do documento, que tem como ponto de partida o currículo estadual e a BNCC, mas incorpora a identidade e a diversidade locais
Sou a Maria Cristelia Maciel de Souza, Diretora Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Cairu, na Bahia.
Sou professora, já fui coordenadora, diretora, estou há 30 anos na educação. Cairu é um município arquipélago. O único do Brasil. O que significa que, em nível de rede, temos um desafio incrível em qualquer setor. Primeiro pela dificuldade de acesso: Cairu contempla 26 ilhas. Quase todos os nossos professores e gestores precisam se deslocar de barco todos os dias. Segundo porque temos uma comunidade diversa. Há pessoas de vários lugares do mundo e do Brasil, por conta do turismo, mas também há nativos.
Desde que a BNCC foi aprovada, no final de 2017, tínhamos uma grande angústia em relação à formação. Além de termos professores de várias localidades, que perdem muito tempo nos trajetos de barco entre uma ilha e outra, a maioria ainda leciona em mais de um lugar. Como conseguiríamos contemplar tudo isso no nosso planejamento? Demos início a algumas formações com coordenadores já em 2018, que replicavam as formações nas escolas. E em 2019, fizemos algumas formações com gestores e coordenadores.
Acompanhamos de perto a elaboração do Documento Referencial Curricular para a Bahia, de referência para o estado. E a equipe técnica da nossa secretaria contribuiu com a construção por meio de consultas realizadas via plataforma online.
No fim de 2019, o currículo foi homologado e nossos professores começaram a analisar criticamente o DRCB a partir da BNCC. Cairu foi um dos municípios convidados a participar de um programa consolidado por meio de uma parceria entre Undime, UNCME, Itaú Social e a Universidade Federal da Bahia, a UFBA, o Programa de (Re)Elaboração dos Referenciais Curriculares nos Municípios Baianos para dar apoio à reelaboração dos referenciais curriculares municipais.
Por meio de encontros virtuais, temos lives sobre os conteúdos a serem trabalhados no currículo. Especialistas da UFBA nos auxiliam a organizar e dar forma aos pontos que discutimos semanalmente. Já realizamos uma escuta dos alunos, durante um mês, com foco em captar qual é a escola que eles têm e qual é a escola que eles sonham em ter. E também escutaremos os pais.
Somos em 247 pessoas trabalhando pela construção do currículo de Cairu. Criamos até um Instagram, o Movimento Curriculante Cairu, com o intuito de mobilizar professores, coordenadores pedagógicos, alunos. Teremos como referencial o DCRB, mas estamos construindo um currículo autoral, com todas as especificidades do nosso município. E todo alinhado à BNCC, que traz uma verdadeira revolução na aprendizagem. Alguns professores mais antigos, à primeira vista estranham a proposta: competências, habilidades… Mas depois, quando você vê que essas mudanças levam para uma aprendizagem com mais sentido, percebe que é uma mudança necessária, para que a educação esteja realmente conectada aos alunos e aos desafios da vida de hoje.
Estou há décadas na educação e tenho muito orgulho de estar à frente de um processo tão significativo para o nosso município.