Brasiléia fica no sul do Acre, na fronteira com a Bolívia. A rede municipal tem 34 escolas, sendo 27 localizadas na zona rural, algumas a mais de 100 quilômetros da sede e com acesso apenas por moto. Para lidar com as diferentes realidades dos estudantes e contextos das escolas – ainda mais no contexto da pandemia – são necessárias sempre novas ações. “Todos os dias precisamos nos preparar para solucionar os desafios que surgem, e para isso é essencial buscar caminhos diferentes”, conta Antonio Jesus de Souza Bispo, técnico da secretaria de educação e participante do Programa de Embaixadores da BNCC (saiba mais sobre essa iniciativa do Movimento pela Base no final da página).
Jesus Bispo trabalha na educação há 21 anos e desde 2019 faz parte da equipe da secretaria de educação. Ele acompanhou o processo de elaboração do referencial curricular acreano entre 2018 e 2019, feito em Regime de Colaboração entre estado e municípios para alinhamento com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na época, participou dos encontros em que os municípios se reuniam em pequenos grupos e davam suas contribuições para a elaboração do referencial estadual (na foto acima, Jesus realizava formações sobre a BNCC com professores em Brasiléia).
“Entre as maiores contribuições da BNCC e do currículo de nosso território estão a perspectiva de ensino que valoriza nova visão sobre o aluno, as competências socioemocionais – tão essenciais para o desenvolvimento integral de crianças e jovens –, e o uso da tecnologia para a aprendizagem”, diz.
Brasiléia fez adesão ao currículo estadual ainda em 2019, e então Jesus Bispo passou a representar seu município nas formações realizadas em Rio Branco, capital do Acre, ao lado dos profissionais de outros municípios, para se aprofundar sobre as orientações indicadas no currículo (foto abaixo). Após cada encontro, o técnico realizava novas formações para colegas de secretaria e nas escolas, onde foram feitos grupos de estudos para aprofundamento dos conhecimentos.
Desafios e busca ativa dos estudantes, mesmo na pandemia
Em 2020, as rotinas da educação precisaram ser alteradas com o surgimento da pandemia. As aulas passaram a ser feitas de forma remota: nas famílias que tinham acesso ao celular houve uso de Whatsapp para envio de atividades para os estudantes, e para as demais foram entregues propostas impressas. “Mais uma vez, precisamos nos adaptar e oferecer o que era possível para a realidade de cada família, sabendo da importância de manter o vínculo dos estudantes com a escola e seguir a BNCC e nosso currículo. Analisamos os pareceres do Conselho Nacional de Educação, criamos um grupo de estudos para pensar as possibilidades de trabalho remoto e começamos a fazer todo o possível para atender os alunos”, relembra.
Nas 27 escolas localizadas na zona rural, o trabalho foi ainda mais intenso e desafiador, já que a distância entre as casas é grande e há pouco acesso à internet e familiaridade com a tecnologia. Mas Jesus Bispo diz ter ouvido da Undime um alerta sobre a importância de não deixar nenhum dos estudantes para trás, e que seria essencial a secretaria, diretores e professores fazerem a busca ativa das crianças e jovens, evitando que abandonassem os estudos. “Passei a repetir essas ideias com meus colegas e pelas escolas, porque se todos os esforços tivessem um mesmo objetivo, nós poderíamos conseguir manter os estudantes ligados à escola”. O resultado da mobilização foi logo visto: ele conta que não houve abandono da escola; pelo contrário, no fim de 2020 havia 22 novas matrículas na rede em relação ao início do ano.
As formações também passaram a ser feitas de forma online com os professores com acesso à internet. Mas para atender os educadores que lecionam nas 24 escolas rurais multisseriadas, a equipe da secretaria se deslocou mensalmente da sede do município para realizar a formação dos professores. “Os educadores foram divididos em núcleos, reunindo as escolas mais próximas, favorecendo a troca entre eles e a equipe técnica. Discutimos sobre as dúvidas relacionadas ao trabalho neste momento da pandemia e retomamos pontos importantes dos currículos”, conta Jesus Bispo. Esse contato permitiu que o planejamento de 2021 também fosse feito conjuntamente, seguindo as medidas sanitárias que o momento exige. “A implementação do currículo não está sendo tão rápida quanto esperávamos. Mesmo assim, com empenho e respostas rápidas aos desafios, nosso trabalho com a educação avança”, conclui.
Sobre os Embaixadores da BNCC
Os Embaixadores da BNCC são um grupo de técnicos de secretarias de Educação municipais e estaduais de todo país com larga experiência e comprometidos com a implementação. A iniciativa, apoiada pelo Movimento pela Base, tem dois objetivos principais:
- Valorizar o trabalho realizado por técnicos de secretarias municipais e estaduais de educação relacionado à implementação da BNCC e dos currículos, dando visibilidade às boas práticas de gestão;
- Proporcionar a formação aos profissionais, oferecendo palestras, mentoria e momento para troca de experiências para aprofundamento dos conhecimentos.
Para ver mais informações sobre a iniciativa e conhecer melhor o trabalho de cada um deles, clique neste link.