Redes de EI e EF

[Análise] Formação continuada para implementação do currículo sergipano

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Por Camila de Araujo Lopes, especialista em Gestão de Projetos (Esalq/USP) e em implementação de políticas educacionais (Instituto Singularidades) e graduada em Letras (USP). 

A minha trajetória de aluna, professora e residente em gestão na Rede Pública de Educação, potencializada pelos programas de desenvolvimento de lideranças do Ensina e Vetor Brasil, aprimoraram minha capacidade de visão sistêmica e mobilização de pessoas na implementação de políticas educacionais, principalmente àquelas voltadas à formação de professores. 

Durante a  participação no programa de residência em gestão pública da ONG Vetor Brasil que realizei na Secretaria de Educação de Sergipe, fiquei à frente  da gestão de três formações de professores. A primeira foi a transposição do módulo 3 para implementação do Currículo Sergipano presencial para o síncrono, em que trabalhei no desenho, na gestão e na operacionalização. A segunda foi a formação de técnicos das Diretorias Regionais para atuarem como suportes das formações síncronas, em que atuei no planejamento e execução. Por fim, fui formadora e gestora na replicação da formação Planejamento para o Ensino Remoto da Nova Escola. Ou seja, pude atravessar todas as etapas que a formação de professores online síncrona exige. O resultado das minhas reflexões deu origem ao trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto Singularidades, como requisito para obtenção do diploma de pós-graduação em implementação de políticas educacionais (disponível aqui na versão completa).

Essas três formações promoveram a sistematização de uma grande quantidade de dados que, comparados aos já coletados pela Analista de Gestão anterior, possibilitaram o desenvolvimento desta pesquisa. Todavia, ela também pode ser pensada como uma gestão de conhecimento gerada pelo trabalho da equipe do currículo.  

A questão que a norteou surgiu no início de 2021, ao se apresentar para a equipe do Formar um diagnóstico das formações que o setor do currículo havia realizado até então e propor um plano de ação para o ano. A partir disso, foi possível identificar que apesar do módulo 1 presencial para implementação da base ter chegado a 60 dos 75 municípios sergipanos, apenas 35,97% dos professores foram alcançados. Na busca para compreender o porquê a formação não chegou a maioria dos professores, foi possível identificar uma série de fatores, dentre os quais: os formadores locais desempenharam uma atividade voluntária, sendo uma possível causa para a desistência de muitos; não foi uma formação realizada dentro do horário de planejamento; e não houve uma responsabilização dos professores que não participavam. Todavia, ao olhar para os resultados das formações síncronas, não foi mais animador que as presenciais, já que apenas 26,4% dos formadores locais finalizaram.

Dessa forma, chegou-se a um impasse, pois, se por um lado o alcance das formações onlines foi insatisfatório, tampouco as formações presenciais obtiveram êxito. Sabendo da dificuldade dos técnicos da secretaria em executar o dinheiro dos recursos PAR destinado à implementação e tendo a secretaria adquirido o zoom recentemente, a minha proposta foi um novo desenho de implementação da formação de professores em que os módulos 1, 2 e 3 chegassem efetivamente a todos os professores da rede pública. 

Para isso, houve uma conversa com a equipe do Mato Grosso do Sul cuja formação chegou a 80% de seus professores e com o Instituto Chapada de Pesquisa e Formação – ICEP. Ambos tinham dois pontos de convergência: o coordenador pedagógico e a presença das formações no calendário escolar. No fim, tanto a rede mato-grossense, quanto o Icep tiveram êxito em suas formações ao dar todo o suporte aos coordenadores pedagógicos para que esses realizassem as formações em serviço. 

Sem querer romantizar o ambiente online, nem partir do pressuposto de que seja a bala de prata da formação continuada, mas, compreendendo o cenário da equipe técnica da SEDUC-SE, com poucas pessoas no setor de currículo, redesenhei a implementação, encurtando o caminho da cascata por meio de formações síncronas direto aos coordenadores pedagógicos para levar de fato a BNCC aos 16.789 professores que fazem parte da rede pública sergipana. Para isso, também considerei mecanismos de responsabilização ao se colocar a formação no calendário escolar das redes municipais e Estadual.

Dizem que o aprendizado só se sedimenta quando se reflete sobre o feito e esse espaço de reflexão se fez nas disciplinas da pós, em que as atividades foram atreladas ao contexto em que estávamos inseridos. E é difícil descrever em palavras o quanto esse espaço foi potente e importante para a gestação dessa pesquisa, gerada da interação promovida pelas trocas entre professores e a turma como um todo.

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