*Por Carolina Campos, diretora executiva do Vozes da Educação

Após quase dois anos de escolas fechadas, a vacinação da população brasileira contra a Covid-19 trouxe a esperança de que o ano letivo de 2022 fosse iniciado na modalidade 100% presencial em todas as escolas do país. Ao final de 2021, entretanto, a variante Ômicron chegou ao Brasil e aumentou consideravelmente as taxas de contaminação da doença. O novo cenário fez com que as escolas, novamente, adiassem o retorno presencial às salas de aula em 2022.

Dentre as redes públicas estaduais de ensino, pelo menos oito adiaram o início do ano letivo ou o iniciaram de forma remota/semipresencial, conforme o site Educação e Coronavírus. Não é possível saber, contudo, se as escolas optaram individualmente pelo ensino remoto ou semipresencial, porque ainda não há no Brasil um sistema capaz de monitorar a situação das redes de ensino municipais, quiçá das unidades escolares.

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Apesar disso, até meados de abril de 2022 as escolas de todos os estados retornaram à modalidade de presencialidade plena. Com escolas abertas, o principal debate da educação básica, no tocante à logística, se volta para a obrigatoriedade do uso de máscaras nos ambientes escolares. Até a finalização deste texto, em 29 de março, sete estados (DF, MS, MT, RJ, RO, SC e SP) e oito capitais (Brasília, Curitiba, Florianópolis, Maceió, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo) tornaram facultativo o uso de máscaras até mesmo em ambientes fechados, o que inclui as escolas.

Se, por um lado, com escolas abertas, a sensação de normalidade volta a existir, por outro, os impactos da pandemia seguirão nos acompanhando por algum tempo na Educação. O novo ano letivo de 2022 já se inicia com, pelo menos, três grandes desafios: a recomposição das aprendizagens; a evasão escolar e o acolhimento e a saúde mental de educadores e estudantes.

É difícil elencar prioridades num cenário tão desafiador, mas, do ponto de vista da aprendizagem, o ensino remoto e a total paralisação das atividades escolares colocaram a educação em uma situação ainda mais complicada. Quando se fala em recomposição das aprendizagens, o que as redes de ensino mais se queixam, neste momento, é de uma resposta para a pergunta “como fazer com que os alunos aprendam o que não foi aprendido ao longo desses dois anos?”. Explicar para as redes o “como fazer” pode dar um norte para as escolas.

Pensando nisso, o Vozes da Educação publicou um levantamento com boas práticas e metodologias capazes de apoiar escolas e redes de ensino nesse processo. O programa Teaching at the Right Level (TaRL), identificado no levantamento citado, é um bom exemplo. Idealizado e implementado pela ONG indiana Pratham Institute, o programa consiste em uma abordagem que divide os estudantes por nível de aprendizagem, dando ênfase no desenvolvimento de habilidades básicas de linguagem e matemática. O TaRL gerou excelentes resultados em diversos países africanos, inclusive durante a epidemia de Ebola. Foi o TaRL, inclusive, que serviu de base para o projeto Aprender Juntos, elaborado pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEDUC/SP).

Mas não é só. A pandemia também gerou aumento alarmante nas taxas de abandono e evasão escolar. Em maio de 2021, o Datafolha lançou uma pesquisa, encomendada pelo Itaú Social, Fundação Lemann e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que trouxe o preocupante dado de que 40% dos estudantes de 6 a 18 anos corriam o risco de abandonar os estudos. Nesse mesmo período, o relatório nacional “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus”, idealizado pelo Conjuve, em parceria com Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco e Visão Mundial, constatou que 32% dos jovens de 15 a 17 anos pensaram em parar de estudar, um aumento de 8 p.p. em relação à 2020.

Por último, mas não menos importante, as comunidades escolares, de forma geral, enfrentarão ainda mais problemas de saúde mental este ano. A OMS, em 2022, publicou um estudo sobre o primeiro ano de pandemia que demonstrou o crescimento de 25% dos casos de ansiedade e depressão em todo o mundo. O Brasil, por sua vez, não tem políticas públicas estruturadas de saúde mental nas escolas. As iniciativas existentes são muito recentes e há poucas evidências acerca de seu funcionamento.

Os efeitos e prejuízos que os dois anos de pandemia trouxeram para a Educação com certeza não serão extintos no curto prazo, mas é preciso buscar alternativas para que seus impactos sejam cada vez menores. Para isso, todos os atores envolvidos com a pauta educacional, sejam do setor público ou da iniciativa privada, devem unir esforços para que os desafios relatados neste texto sejam devidamente endereçados, sobretudo por conta das recentes mudanças surgidas na educação, como a BNCC e a reforma do Ensino Médio.

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