“Meu nome é Lucileda Vieira Sobrinho e sou professora da Educação Infantil desde 2007. Em 2019, passei a compor a equipe da Diretoria de Educação Infantil da Secretaria de Educação do Município de Araguaína, no Tocantins, na função de supervisora, orientadora educacional e formadora. Noto que ser formadora requer sensibilidade para ver, escutar os professores para contribuir para o desenvolvimento da sua prática, contemplando os direitos de aprendizagem da criança de maneira significativa. No segundo semestre de 2021, paralelo ao trabalho que desenvolvo na zona urbana, fui convidada a acompanhar as escolas e professores do campo que atendem a Educação Infantil. Essa nova missão enquanto supervisora e formadora me desestabilizou totalmente, pois a minha experiência de 15 anos na educação nunca esteve pautada em vivências da educação do campo, o que me impulsionou – e me obrigou – a buscar outros conhecimentos.
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Você, caro leitor, consegue imaginar qual foi a minha primeira atitude em relação a essa nova atribuição? Fui conhecer de perto a realidade da Educação do Campo! Passei a dialogar com maior intencionalidade e frequência com os membros que compõem a Diretoria das Escolas do Campo, visitei algumas unidades escolares e, assim, pude observar os espaços, conversar com os professores, crianças e funcionários em geral. Fotografei quase tudo o que atraía o meu olhar e registrei inquietações, sugestões, dúvidas dos professores, considerações acerca dos documentos encaminhados pela secretaria e relatos de experiências. Também elaborei um questionário simples em que os professores puderam indicar seus maiores desafios e sobre o que gostariam ou precisam saber mais. Como resultado desse processo, tive subsídio para definir a temática da formação, que ocorreu em dois núcleos.
Após observar os desafios que os professores enfrentam cotidianamente e sugestões de assuntos a serem abordados na formação, percebemos que estavam preocupados com a recomposição das aprendizagens. Queriam saber por onde começar – ou recomeçar -, sem se apegar, necessariamente, aos conteúdos sequenciados que constam no currículo para o ano letivo. Suas inquietações se referiam a muitas aprendizagens que devem ser adquiridas pelas crianças, mas principalmente sobre leitura e escrita na pré-escola. Com isto, trabalhamos com a temática “Saberes e práticas de leitura e escrita nas turmas multisseriadas da Educação Infantil”.
Antes do encontro, criamos propostas em que os professores pensassem sobre a escrita, os tipos de textos, a leitura de mundo que antecede a leitura convencional, a concepção de criança e a importância que esses profissionais têm na vida desses seres que depositam em nossas mãos a esperança de um futuro melhor. Passamos algumas orientações prévias, por meio do grupo de WhatsApp e, assim, estreitamos laços e despertamos interesses.
Normalmente, os professores do campo participam das formações junto com os da zona urbana, o que possibilita trocas importantes. Mas para aquele momento percebi que precisavam de algo discutido a partir das necessidades locais. Ao invés dos professores virem para a cidade, a secretaria foi para o campo. Isso foi maravilhoso!
Lembro bem que em 2021 participei de vários encontros formativos como participante do grupo de Embaixadores da BNCC. As formações foram ímpares para a minha prática e, principalmente, para compreender melhor o objetivo da Base. Um dos pontos mais altos do documento, na minha opinião, no que se refere a Educação Infantil, é orientar sobre a importância do desenvolvimento das crianças a partir das experiências contextualizadas com o cotidiano.
Com esta estratégia, foi possível propor situações práticas em que os docentes puderam perceber, explorar e valorizar o que tinham em seu entorno. Um dos nossos principais objetivos foi despertar reflexões acerca do que o campo oferece, e o que é relevante trabalhar com as crianças atendidas. Eu, na condição de formadora, e a minha parceira de supervisão na secretaria e ex-professora de turmas multisseriadas nas escolas do campo, Sandra Almeida, tivemos cuidado em mostrar aos professores que as propostas eram possíveis acontecer com as ferramentas que eles dispõem, como por exemplo, usar a natureza ao seu favor!
A formação com os professores do campo, em um novo formato e com um olhar direcionado para a escuta, nos moveram enquanto secretaria. Eu, sendo professora, supervisora e formadora passei a compreender ainda mais a necessidade da prática docente estar alinhada à Base. A probabilidade de oferecermos uma educação pautada no que fará a diferença na vida das crianças será maior, uma vez que a BNCC nos subsidia em busca de uma educação mais justa e igualitária.