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Currículo de Educação Infantil de Ubatuba usa a água para contextualizar práticas ao território

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Ubatuba é uma cidade localizada no litoral norte de São Paulo. Cortada pela Mata Atlântica e ladeada pelo Parque Estadual da Serra do Mar, o município é cheio de potenciais, como saberes caiçaras e imensa biodiversidade. É olhando para este território diverso que a coordenação e educadores do Centro Educacional Municipal da Primeira Infância, o Cempri, têm desenvolvido suas atividades nos últimos dois anos. 

“Por conta do litoral, água é um elemento que usamos muito. Por isso, nossas propostas de brincadeiras para as crianças têm a ver com banhos de boneca, molhar tecidos, sentir a água”, relata Luciana Govea Gaspar, coordenadora pedagógica do Cempri desde 2019. “Essas brincadeiras têm toda uma preparação e utilização de materiais que façam sentido. Elas incentivam que as crianças explorem o que têm ao seu redor. Agora na pandemia, orientamos os pais a manterem as práticas em suas casas.”

Atividades arraigadas no território e na realidade das crianças fazem parte da reformulação do currículo do centro, que atende crianças de 0 a 6 anos. Para empreendê-la, educadores e gestores se apoiaram nos eixos de interações e brincadeiras propostos na Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Foi Luciana que deu o primeiro passo para essa revolução pedagógica.

“Como supervisora, sempre promovi vários encontros de formação da BNCC com a Rede de Ubatuba. Mas me faltava o chão da escola, vê-la na prática. Quando cheguei no Cempri, vi que eles não estavam vivenciando a BNCC, então comecei este trabalho de introdução em conjunto com os educadores”, relembra a coordenadora.

BNCC como experimentação de mundo

As práticas pautadas na BNCC voltadas para Educação Infantil olham para o cuidado com crianças como forma de possibilitar que elas experimentem o mundo. Cada atividade e interação é uma aprendizagem, que deve respeitar os tempos de apreensão e de curiosidade de cada sujeito.

Foi nessa ideia que Luciana e sua rede de educadoras se pautou para criar atividades para as crianças. “Começamos a trazer brincadeiras com lama, areia, água. Pedimos um sem fim de materiais diferentes para os pais, como panelas, batedeiras usadas, utensílios do dia-a-dia das crianças. Ao invés de lápis e papel, tecidos, texturas vivas. Para que as crianças pudessem se sentir vivas também.”

A participação dos pais na implementação do novo currículo foi fundamental, como continua a diretora: “Desde a primeira reunião que fizemos com as proposta da BNCC, sempre mostramos aos pais o desenvolvimento das crianças, com registros fotográficos e vídeos. Eles viraram parceiros. Ajudam com os materiais e nas brincadeiras, num desejo evidente de uma infância mais feliz.”

Há também um uso dos equipamentos ao redor do Cempri, como conta a educadora Rosa Botós: “Levamos junto com os pais as crianças para o Projeto Tamar, que trabalha com tartarugas aqui da região. Quando não podemos deslocar as crianças, levamos o mundo para elas: um educador simulou o fundo do mar numa das salas, construindo esse ambiente com elas.”

A pandemia não arrefeceu os esforços de transformação no currículo. Remotamente e com apoio constante dos pais, as educadoras mantêm as rotinas de aprendizagem e brincadeira. A casa se converteu em um laboratório de experiências, onde cada cômodo e objeto têm a função de dar continuidade ao processo de aprendizagem.

“As crianças continuam brincando com suas famílias e explorando a casa. Como os pais já conheciam as propostas, eles têm segurança de desenvolvê-las com as crianças”, arremata Luciana. 

A intersetorialidade para garantir o aprendizagem

 Uma das grandes preocupações quando a pandemia de Covid-19 começou foi como garantir os direitos de aprendizagem das crianças em um cenário de distanciamento. As educadoras temiam não só uma quebra de vínculos com os pequenos, como também dificuldades de acesso aos pais pelos meios digitais, nem sempre disponíveis para todas as famílias. 

Para mitigar esses efeitos, desde março o corpo docente se dedicou a criar uma frente de busca ativa para as crianças. “A cada atividade enviada, os educadores ficam aguardando o retorno da família. Eles enviam vídeos, fotos, mensagens, se adaptam quando os pais não gostam de tecnologias ou não podem acessá-las, fazendo ligações. Esses telefonemas são sempre carinhosos, a partir das atividades propostas. É uma conversa entre parceiros, onde as mães e pais também dão dicas que podem ajudar outras famílias.” 

Caso seja notado algum tipo de vulnerabilidade durante a busca ativa, o Cempri realiza um trabalho interdisciplinar junto a equipamentos de saúde e de assistência social. A ideia é garantir que os direitos de aprendizagem não sejam atravessados ou impedidos por deficiências do território que aumentaram por conta da pandemia. 

 “No início do ano íamos receber uma criança com problemas respiratórios. Aí veio a pandemia, e não conseguimos recebê-la. No meio do ano, a Saúde entrou em contato e nos deu a notícia de que ele estava melhor. E aí fomos pessoalmente até a casa da criança, entramos em contato com outros agentes da saúde para providenciar fonoaudióloga e fisioterapia, e hoje, conseguimos acompanhar o progresso dele à distância.”, relata Luciana. 

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