A cada ano, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulga um relatório chamado Education at a Glance, que permite vislumbrar algumas comparações de investimento e acesso à educação nos países membros do grupo e convidados, bem como o impacto da educação na chegada ao mercado de trabalho.

No Brasil, as informações são fornecidas à OCDE pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC), que compila o material e faz a equivalência dos dados, permitindo a comparação entre os diferentes sistemas de ensino.

Selecionamos a seguir os principais destaques do Brasil em comparação com outros países:

 

Gasto público por aluno: um desafio orçamentário

O Brasil investe significativamente menos por aluno em comparação com países da OCDE. O investimento anual em alunos do ensino primário, por exemplo, é cerca de um terço da média da OCDE, o que reflete as dificuldades de financiamento na educação pública. Esse desequilíbrio pode impactar a qualidade do ensino e as oportunidades de aprendizado.

Os investimentos brasileiros por aluno são significativamente mais baixos do que a média da OCDE. No ensino primário, por exemplo, o Brasil gasta cerca de USD 3.668 por aluno, enquanto a média da OCDE é de USD 11.914. Esse valor é calculado de acordo com o PISA.

Além disso, o relatório alerta sobre a escassez de professores, especialmente em disciplinas de ciências exatas, o que afeta o desempenho dos alunos.

 

A situação da juventude: algumas melhoras à vista

Segundo a OCDE, o nível de escolaridade e os resultados no mercado de trabalho melhoraram para os jovens adultos com maior risco de ficar para trás, mas os sistemas educativos precisam adaptar-se ainda mais para elevar os resultados para todos os grupos – incluindo mulheres jovens e de baixa renda. No Brasil, a taxa de jovens entre 18 e 24 anos que não trabalham nem estudam (os chamados Nem-Nem) caiu de 29,4% para 24,0% entre 2016 e 2023. Ainda assim, é bem maior do que em países considerados mais desenvolvidos economicamente.

 

Primeira infância em destaque

Sabemos que a educação infantil pode ajudar a reduzir as lacunas de desenvolvimento que colocam algumas crianças em desvantagem. Na maioria dos países da OCDE, a grande maioria das crianças está matriculada na educação infantil um ano antes do início do ensino fundamental. No Brasil, 90% das crianças nessa faixa etária estão matriculadas, um pouco abaixo da média da OCDE de 96%. Com isso, vemos que há espaço para expandir esse acesso e melhorar a qualidade, assegurando que mais crianças comecem a trajetória escolar em pé de igualdade.

 

Desigualdades de gênero e mercado de trabalho

Embora meninas e mulheres superem os resultados educacionais de meninos e homens, o quadro se inverte quando elas entram no mercado de trabalho, aponta a OCDE. As principais medidas de resultados do mercado de trabalho são geralmente piores para mulheres do que para homens. Na faixa etária de 25 a 34 anos, elas têm menos probabilidade de serem empregadas do que homens, com a lacuna tipicamente mais ampla para aquelas com nível educacional abaixo do ensino médio e mais estreita para aquelas com nível superior. 

No Brasil, apenas 44% das mulheres jovens com nível educacional abaixo do ensino médio estão empregadas, enquanto a parcela correspondente para homens jovens é de 80% (as médias correspondentes da OCDE são 47% e 72%). Em contraste, 85% das mulheres jovens com qualificação superior estão empregadas, enquanto a parcela correspondente para homens jovens é de 92% (as médias correspondentes da OCDE são 84% e 90%).

No entanto, o nível superior não ajuda a reduzir a lacuna salarial. Em toda a OCDE, mulheres jovens com qualificação terciária ganham em média 83% do salário de seus pares do sexo masculino, enquanto a fração correspondente é de 75% no Brasil. Entre aquelas com ensino médio superior ou pós-secundário não superior, as mulheres jovens ganham em média 84% do salário de seus pares do sexo masculino em toda a OCDE e 74% no Brasil.