Em Santos, litoral de São Paulo, os professores têm incluído a investigação e a pesquisa em suas propostas com os estudantes. Quem comemora essas práticas é Fabrício Cruz Florêncio da Silva, técnico da secretaria de educação desde 2015, educador há 16 anos e participante do Programa de Embaixadores da BNCC (saiba mais sobre essa iniciativa do Movimento pela Base no final da página).
Fabrício faz parte da equipe de formação continuada da secretaria, organizada para atender os cerca de 4200 profissionais da educação das 87 unidades municipais de educação. Esse olhar para a investigação e a pesquisa está evidente no trabalho do educador desde 2015, quando Fabrício ingressou na secretaria, mobilizando em parceria com outro colega as escolas para a realização das Feiras de Ciências, que passaram a ser anuais. Nos anos seguintes, esse enfoque foi se consolidando e a partir de 2019 a “Investigação e Pesquisa” passou a ser um componente curricular para os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental. “A análise, a busca das causas para os fenômenos e a formulação de hipóteses é própria do ensino de Ciências, mas não só. É importante que ela faça parte das estratégias usadas em todas as áreas, porque é transversal à Matemática, História ou Língua, por exemplo. Por isso, acredito que ter um componente curricular específico de Investigação e Pesquisa não será mais necessário quando passar a ser incorporado de fato na rotina de todas as áreas”, conta Fabrício, que é formado em Biologia.
Essa abordagem consta nas Competências Gerais de “Pensamento Científico, Crítico e Criativo” e “Argumentação” estabelecidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em 2017. Fabrício indica que atividades que englobam resolução de problemas, observação, levantamento e tratamento de dados, entrevistas e escuta com população envolvida, por exemplo, em contextos reais, possibilitam que os estudantes encontrem o espaço para a investigação e a pesquisa. Outra defesa do educador é de um ensino com foco no desenvolvimento de competências e habilidades pelos estudantes, o que está também indicado na Base, no Currículo Paulista e no de Santos.
A importância e o objetivo das formações
Mas nem todos os educadores estavam acostumados a trabalhar com investigação, pesquisa, competências e habilidades. Então a formação continuada tem sido um apoio essencial para aprenderem e adaptarem suas práticas. A rede de Santos tem formações com o tema ‘Investigação e Pesquisa’ que ficam disponíveis aos professores dos anos finais do Ensino Fundamental de todas as áreas. Aqueles que se inscrevem nesse tema participam de discussões ao longo do ano: “Neste momento da implementação do currículo, é essencial trazer estratégias e discutir a abordagem da investigação junto das habilidades. Isso inclui ler as habilidades e trabalhá-las em relação ao objeto de estudo”, diz. Nos encontros de 2021, Fabrício conta que os educadores estão construindo coletivamente planos de aula para cada habilidade incluída no currículo santista que aborda características regionais.
As formações voltadas aos coordenadores pedagógicos procuram reforçar o papel desses profissionais como parte essencial do processo formativo: “Os coordenadores são os parceiros mais experientes para os professores, que conhecem as realidades e dificuldades do grupo, têm repertório para contribuir e realizam as formações na escola. Para aprimorar o trabalho dos coordenadores, a secretaria de educação estimula que desenvolvam as competências que serão ensinadas para os professores (e depois para os estudantes), que saibam como transformar as habilidades em atividades para apoiar os docentes em suas ações pedagógicas, promovam a investigação entre as práticas realizadas e ainda conheçam sobre gestão de sala de aula, agrupamentos e diversas estratégias”, diz.
Construção dos currículos e a chegada da pandemia
O Currículo Paulista foi construído em Regime de Colaboração entre a rede estadual e as municipais e homologado em 2019. Santos aderiu ao documento e no mesmo ano fez adaptações para a realidade local. Fabrício participou desse processo no município sendo um dos redatores de Ciências da Natureza. Ele se lembra que foi possível incluir no texto as referências regionais para o ensino de determinadas habilidades, e que também houve participação da comunidade escolar. “As escutas com os educadores trouxeram contribuições, mas também tensões: muitas vezes foi preciso insistir com alguns caminhos para manter concepções e conceitos postos na BNCC”, conta.
Em 2020 e 2021, diante da pandemia, uma nova versão do currículo foi feita considerando as mudanças trazidas pelo ensino remoto, priorizando habilidades e competências essenciais que deveriam ser abordadas. As formações passaram a ser feitas a distância: “Nossa principal meta é apoiar os professores para que consigam ensinar o que de fato está registrado no currículo, perseguindo a investigação e o desenvolvimento de competências e habilidades. As discussões têm como foco a maneira de transformar as habilidades em uma aula para o novo formato. Construímos roteiros e discutimos com os professores, pensamos em avaliação e como elas podem verificar as aprendizagens, mesmo em um contexto tão desfavorável”, conta Fabrício. Como próximo passo e para atender uma demanda dos educadores, serão promovidos momentos de troca de ideias sobre materiais úteis, que colaboram para o enriquecimento das dinâmicas com os estudantes ou para o aprofundamento do professor. Isso vai incluir a reunião de textos ou vídeos que falam sobre os morros da cidade, o mar, a mata atlântica ou as dinâmicas dos ventos, por exemplo, assuntos próprios da região.
Ele considera que não é possível ainda medir o impacto da BNCC e dos currículos, ainda mais no momento atual, com as dificuldades impulsionadas pela pandemia, mas nota mudanças: “Os livros didáticos não são mais os norteadores do trabalho do professor. Agora a BNCC e os currículos são os documentos de referência e explicitam a necessidade de se desenvolver para ensinar por competências e habilidades. Acredito que só é possível incorporar o currículo se ele é conhecido, analisado e se faz parte da cultura dos educadores. Sabemos que o processo formativo é longo, que já demos passos importantes, mas ainda é preciso seguir”, diz o educador.
Sobre os Embaixadores da BNCC
Os Embaixadores da BNCC são um grupo de técnicos de secretarias de Educação municipais e estaduais de todo país com larga experiência e comprometidos com a implementação. A iniciativa, apoiada pelo Movimento pela Base, tem dois objetivos principais:
- Valorizar o trabalho realizado por técnicos de secretarias municipais e estaduais de educação relacionado à implementação da BNCC e dos currículos, dando visibilidade às boas práticas de gestão;
- Proporcionar a formação aos profissionais, oferecendo palestras, mentoria e momento para troca de experiências para aprofundamento dos conhecimentos.
Para ver mais informações sobre a iniciativa e conhecer melhor o trabalho de cada um deles, clique neste link.