Aprendizagens compartilhadas e referências para a implementação da BNCC em 2026

O Encontro Anual dos Grupos de Trabalho do Movimento pela Base, realizado em São Paulo no dia 2 de dezembro, reuniu especialistas, representantes de redes e integrantes dos quatro GTs: Educação Infantil, Anos Iniciais, Anos Finais e Ensino Médio, para um dia dedicado à análise dos aprendizados de 2025 e à construção de referências comuns para 2026.

Participantes do Encontro Anual dos Grupos de Trabalho do Movimento pela Base, edição 2025, realizado em São Paulo, com representantes dos GTs de Educação Infantil, Anos Iniciais, Anos Finais e Ensino Médio.

 

 

 

As discussões reforçaram que a consolidação da BNCC depende tanto da clareza das políticas quanto de condições concretas para que práticas pedagógicas coerentes aconteçam no cotidiano das escolas. A abertura retomou marcos do ano e os achados do Papo da Base, consulta nacional que reuniu participantes de 24 estados e do Distrito Federal para dialogar sobre desafios comuns das redes e construir sínteses coletivas para fortalecer a implementação da BNCC. Os relatos do encontro destacaram a importância de fortalecer equipes técnicas, apoiar escolas de forma contínua e integrar currículo, formação, materiais e avaliação.

Evidências e impactos: estudos da FGV

A primeira mesa reuniu João Pedote (consultor e pesquisador da FGV), Catarina Segatto (professora da USP) e Fernanda Lima Silva (professora da USP), sob mediação do diretor executivo do Movimento pela Base, Antonio Bresolin. O grupo apresentou análises derivadas de estudos de caso conduzidos pela FGV em redes de diferentes portes, apontando variações na capacidade de gestão pedagógica, na tradução curricular e nas formas de acompanhamento das escolas.

Participantes da mesa Evidências e impactos: estudos da FGV, com João Pedote (FGV), Catarina Segatto (USP) e Fernanda Lima Silva (USP), sob mediação de Antonio Bresolin, diretor executivo do Movimento pela Base.

 

 

 

 

O estudo mostrou que avanços consistentes na implementação tendem a ocorrer quando redes mantêm prioridades claras, oferecem apoio técnico contínuo e utilizam evidências para orientar ajustes ao longo do tempo. As análises reforçaram a importância de práticas de monitoramento que dialoguem com a realidade das escolas e permitam identificar necessidades com precisão.

Os resultados foram apresentados pela primeira vez aos GTs durante o encontro e terá sua versão completa publicada em 2026.

Quali BNCC: instrumento avaliativo e aprendizagem institucional

A mesa sobre o QualiBNCC, mediada pela facilitadora dos GTs e uma referência em primeira infância, Beatriz Ferraz, contou com Fernanda Cury (especialista em pesquisas qualitativas e quantitativas), Ana Lúcia Lima (sócia diretora da Conhecimento Social) e Camila Martins (pesquisadora e co líder da Agenda de Primeira Infância). As convidadas apresentaram o processo de revisão do instrumento com base nos resultados do piloto realizado em 2024, destacando ajustes na linguagem, na estrutura dos critérios e na forma de aplicação.


Participantes da mesa Quali BNCC, com Camila Martins (LEPES/USP), Beatriz Ferraz, Fernanda Cury e Ana Lúcia Lima (Conhecimento Social).

 

 

 

 

A Quali BNCC é um instrumento de autoavaliação que apoia redes de ensino na análise da coerência entre currículo, formação, materiais, acompanhamento pedagógico e práticas escolares. Seu objetivo é orientar tomadas de decisão baseadas em evidências e fortalecer rotinas de gestão pedagógica. Na primeira aplicação piloto, conduzida com redes de Ensino Fundamental, o instrumento permitiu identificar tanto avanços quanto desafios: em algumas redes, a BNCC já orientava práticas de forma mais consistente; em outras, prevalecia um uso declaratório do currículo, sem alinhamento com materiais e com a formação docente.

Entre os principais achados apresentados, destacam-se:

  • a necessidade de rubricas mais precisas para reduzir risco de autoavaliações superestimadas,
  • dificuldades de redes com menor capacidade técnica em discriminar níveis de implementação,
  • a importância de integrar o Quali BNCC a processos contínuos de acompanhamento pedagógico.

A adaptação para a Educação Infantil, apresentada por Camila Martins, reforçou a necessidade de instrumentos capazes de captar elementos próprios da etapa, como organização dos tempos e espaços, interações e rotinas pedagógicas. A mesa destacou que monitorar a implementação exige ferramentas sensíveis às especificidades das escolas e capazes de orientar decisões de gestão de maneira formativa, e não punitiva.

Ciência da implementação: referências para políticas e práticas

A mesa dedicada à ciência da implementação, mediada pela facilitadora dos GTs de Anos Finais e Ensino Médio, Simone André, especialista em educação e design de políticas educacionais, reuniu Olavo Nogueira Filho (diretor executivo do Todos Pela Educação) e Fabiana Silva Fernandes (pesquisadora da Fundação Carlos Chagas).

Participantes da mesa Ciência da implementação, com Simone André, Fabiana Silva Fernandes (Fundação Carlos Chagas) e Olavo Nogueira Filho (Todos Pela Educação).

 

 

 

 

 

Fabiana apresentou modelos analíticos que mostram como políticas se transformam quando entram em contato com contextos institucionais diversos, destacando que continuidade, estabilidade das equipes e leitura de contexto são fatores determinantes para a execução. Já Olavo discutiu evidências sobre desafios de coordenação em redes de grande porte e apresentou o conceito de infraestrutura de implementação, que articula liderança técnica, atuação dos órgãos regionais, papel dos diretores escolares e monitoramento contínuo.

Ambos reforçaram que implementação não é evento, é processo que envolve adaptação constante, alinhamento entre níveis do sistema e transformação das práticas pedagógicas.

O que é ciência da implementação?

A ciência da implementação é um campo de estudos que busca compreender como políticas públicas são executadas na prática e quais fatores determinam seu sucesso ou fracasso. Em vez de focar apenas no desenho da política, analisa:

  • como diferentes atores interpretam e adaptam diretrizes;
  • quais capacidades técnicas e institucionais apoiam ou limitam a execução;
  • que condições organizacionais permitem que práticas consistentes se consolidem;
  • como monitoramento, formação, materiais e liderança se articulam no cotidiano.

No contexto da BNCC, a ciência da implementação ajuda a explicar por que políticas iguais produzem resultados diferentes entre redes, e orienta decisões para fortalecer coerência curricular, gestão pedagógica e aprendizagem dos estudantes.

Diversidade na BNCC: perspectivas e caminhos

A mesa sobre diversidade, mediada pelo coordenador geral dos GTs, Ygor Lioi, contou com Jaqueline Lima Santos (antropóloga e pesquisadora da Unicamp), que destacou como identidades, territórios e contextos culturais moldam a forma como currículos se materializam nas escolas. Jaqueline reforçou que políticas curriculares mais coerentes precisam dialogar com as experiências dos estudantes e reconhecer a diversidade como princípio estruturante da implementação.

Participantes da Mesa Diversidade na BNCC, com Jaqueline Lima Santos (Unicamp) e mediação de Ygor Lióri.

 

 

 

 

 

 

Diagnósticos dos GTs e prioridades compartilhadas para 2026

Na etapa final do encontro, os GTs apresentaram seus diagnósticos e prioridades para 2026. As análises mostraram convergências importantes entre as etapas: fortalecer a formação docente baseada na prática, aprimorar a gestão pedagógica com materiais e orientações consistentes, integrar avaliação e ensino e apoiar equipes escolares de forma contínua.

Os grupos também retomaram os aprendizados do Papo da Base, especialmente aqueles relacionados à necessidade de alinhar expectativas entre níveis de gestão, ampliar a coerência entre currículo, formação e materiais e apoiar de maneira mais estruturada o trabalho pedagógico das escolas. Essa escuta nacional reforçou pautas que reapareceram nos diagnósticos: a urgência de fortalecer capacidades locais, o papel das equipes técnicas e a importância de rotinas de acompanhamento pedagógico que dialoguem com o cotidiano escolar.


Participantes do GT de Educação Infantil durante o Encontro Anual dos Grupos de Trabalho do Movimento pela Base 2025.

 

 

 

 

 

A Educação Infantil destacou desafios relacionados às rotinas, às práticas de documentação pedagógica e à organização das experiências das crianças nos diferentes Campos de Experiência; os Anos Iniciais enfatizaram alfabetização como política de equidade; os Anos Finais e o Ensino Médio trataram a transição entre etapas como momento crítico para permanência e aprendizagem. A equidade apareceu como eixo transversal em todas as discussões.

O encontro foi encerrado com uma síntese integrada dos aprendizados das mesas e das contribuições dos GTs, além da reafirmação dos princípios que orientarão o próximo ciclo: clareza sobre prioridades, uso consistente de evidências, apoio contínuo às redes e foco na equidade. A agenda de 2026 incluirá diagnósticos, materiais técnicos, pesquisas e referências para apoiar redes na consolidação da BNCC como política curricular viva, capaz de orientar práticas pedagógicas significativas e sustentáveis em todo o país.