Redes de EI e EF

Envolvimento da comunidade para a educação em Almirante Tamandaré (PR)

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Durante a pandemia de Covid-19 em 2020, a comunidade de Almirante Tamandaré, município na região metropolitana de Curitiba, no Paraná, se mobilizou para assegurar o direito à educação. Quase 300 casas e estabelecimentos do município se converteram em um ponto de encontro dos profissionais de escolas, estudantes e suas famílias no que foi chamado de projeto Casas Sementeiras. Com essa e outras iniciativas, Almirante Tamandaré conseguiu manter contato com 100% dos estudantes da rede pública, mesmo com as escolas fechadas.

 

As casas que ligaram a secretaria aos estudantes

O projeto começou a ser estruturado quando a Secretaria de Educação do Estado do Paraná sugeriu que as redes municipais adotassem aulas online e ferramentas digitais para manutenção do vínculo entre escola, família e estudantes durante o período da pandemia.

Mas Almirante Tamandaré não conseguiria seguir essa orientação, segundo Jucie Parreira, o Secretário Municipal de Educação e Cultura daquele mandato que prossegue no cargo em 2021. “Em um primeiro mapeamento com as unidades escolares, descobrimos que 40% dos estudantes não tinham acesso à internet e que a maior parte dos demais tinham conexão apenas via celular. Não seria possível assegurar os direitos da educação, que são coletivos e de todos, dependendo apenas da tecnologia”, diz.

Foi realizado um mapeamento territorial profundo nos seis territórios em que a cidade está dividida e que há articulação entre os serviços da prefeitura. Inicialmente a Secretaria criou o programa Brincando e Aprendendo na Quarentena, que incentivava e apoiava as famílias a manter a aprendizagem de acordo com as possibilidades e potencialidades de cada uma.

Com o passar dos meses e a continuidade da pandemia, a Secretaria de Educação tornou a acionar a comunidade para construir um programa robusto, com envolvimento de todos na garantia dos direitos de aprendizagem de crianças, jovens e adultos. Com o Programa Municipal de Aprendizagens Integrais Remotas, instaurou diversas atividades e projetos para manutenção de vínculo, entre elas o Casas Sementeiras.

“Utilizamos uma estratégia que está na Constituição, que é pensar e fazer em comunidade. As duplas gestoras da escola – diretoras e coordenadoras – verificaram quais estabelecimentos comerciais, igrejas ou residências tinham disponibilidade para ser uma Casa Sementeira”, diz o Secretário (veja abaixo a distribuição das unidades no mapa).

Cada uma tinha como responsabilidade se comunicar com 10 a 15 crianças de seu bairro e, quinzenalmente, as escolas enviaram para cada Casa Sementeira as atividades para os estudantes da região, e depois as retiravam no mesmo local. Todas as propostas, em diferentes formatos, eram alinhadas aos princípios da BNCC. Os mais de 300 locais que se colocaram à disposição na convocação pública (como a loja na foto abaixo) também funcionaram como pequenos bolsões de cidadania, ajudando a efetivar os demais direitos, como violações de direitos da criança e da família.

 

Construção dos currículos com a comunidade

Esse envolvimento conjunto não surgiu por acaso. Ele é consequência de um esforço que começou em 2019, durante a reformulação do currículo e a implementação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Na época, mais de 120 encontros abertos à comunidade foram feitos durante 20 meses para criar o referencial curricular alinhado às necessidades locais. Os documentos relacionados à BNCC ajudaram a organizar e fundamentar os debates com a comunidade, construindo a compreensão dos direitos da aprendizagem.

“Houve escuta de servidores, assembleias com famílias e entidades religiosas. Crianças definiram objetivos macro da cidade, famílias conheceram a BNCC e dizem que agora sabem o que esperar da escola pública. Juntos construímos o novo currículo. A secretaria não teve o papel de simplesmente apresentar a BNCC, e sim de fazer com que a comunidade se apropriasse dela”, conta Jucie, já Secretário de Educação naquele mandato. “Em Almirante Tamandaré não se cuida sozinho da educação. É preciso da cidade toda”, afirma.