A professora Iolanda ajudou a criar, no estado da Paraíba, a eletiva Colabore e Inove, que une empreendedorismo e inovação por meio de metodologias ativas, a partir de um projeto realizado em duas escolas. Hoje, ela atua como redatora do referencial curricular alinhado ao Novo Ensino Médio. E, para 2021, a ideia é ampliar a oferta da eletiva para todo o estado 

Sou Iolanda Cortez, professora de história da rede estadual da Paraíba e redatora do currículo do Novo Ensino Médio, trabalhando na parte de Ciências Humanas e nos itinerários formativos.

Em 2017, fiz uma formação junto com a minha parceira, Giovania, que é professora de Química, em Empreendedorismo na Educação e Competências do Século 21 na Universidade de Ciências Aplicadas de Tampere, na Finlândia. 

Confesso que antes da formação, tinha uma visão bem restrita sobre a ideia de empreendedorismo na educação. Mas, entendi que o empreendedorismo é um aliado para materializar os sonhos por meio dos estudos e das escolhas. Que auxilia o estudante no processo de autoconhecimento, gestão, aprendizagem e de conectar seus saberes e decisões ao seu projeto de vida.

Depois da formação, pensamos como aplicar o que aprendemos à realidade da Paraíba, considerando processos históricos e culturais tão diversos. Eu e Giovania trabalhávamos, cada uma, em uma escola de tempo integral: eu em Campina Grande e ela em João Pessoa. Então, criamos uma eletiva, a Colabore e Inove, para ser implementada nessas duas instituições. A ideia era trabalhar metolodologias ativas de educação e empreendedorismo de acordo com as competências do século 21.

Trabalhamos uma sequência didática, na qual o primeiro semestre foca na colaboração e o segundo na inovação, a partir de três abordagens: aprendizagem baseada em equipe – quando os estudantes, juntos, elegem um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da agenda de 2030 da ONU; aprendizagem baseada em problema – os estudantes se dedicam a conhecer a fundo os problemas relacionados a esse objetivo para tentar encontrar uma solução efetiva e aprendizagem baseada em projeto – desenvolvem e apresentam a solução como um produto de impacto social. Tudo isso sob a perspectiva da territorialidade, relacionando os objetivos de desenvolvimento sustentável a questões locais – do assoreamento do rio que passa perto da escola até alunos que identificam colegas com hábitos de automutilação.

Com a eletiva, o engajamento dos estudantes melhorou de maneira incrível – eles passaram a se interessar mais e a serem muito mais proativos, identificando problemas e apresentando soluções. Lembro de uma turma que detectou que alguns dos alunos tinham dificuldades em matemática. E os próprios estudantes propuseram a criação de um grupo de estudos. É como se eles passassem a atuar como monitores da escola. E, enquanto professores, construímos uma relação de confiança e responsabilidade com os estudantes porque acreditamos no potencial deles. Isso deu força ao protagonismo juvenil.

Em 2019, a eletiva passou a estar disponível para 90 escolas, integrando o currículo, na parte diversificada, para o primeiro ano do Ensino Médio. Em 2020 temos 123 escolas com a eletiva e a perspectiva, para o próximo ano, é que ela fala parte de todas as séries do Ensino Médio.  

Participar da redação da proposta curricular para o Novo Ensino Médio ampliou ainda mais meus horizontes e trouxe conhecimentos, de certa forma, complementares ao que já vivenciei com a Colabore e Inove. A proposta do Novo Ensino Médio é pensar em uma nova forma de ensino, diferente e muito mais significativa do que quando eu fiz o Ensino Médio. Começamos a refletir com mais propriedade sobre qual é a finalidade da educação. Será que basta preparar os estudantes para o vestibular? A gente lida com diversos sonhos que precisam ser considerados de outra maneira e não foram antes.

É ver a escola como um espaço de construção e fortalecimento de diversas juventudes. O currículo vem para fortalecer isso. Porque se a comunidade quer fazer diferente e o currículo não dá abertura para isso, ele passa a ser um fator limitador. O currículo não vai resolver todos os problemas da escola, mas é um caminho para achar soluções. 

Nosso próximo passo para continuar fortalecer o trabalho com empreendedorismo e inovação é criar uma plataforma de intercâmbio de boas práticas entre professores 

 

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