2025 como ano de consolidação, escuta e leitura crítica

Acompanhar a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os caminhos das políticas públicas educacionais no país é um dos eixos centrais da atuação do Movimento pela Base. Em 2025, esse acompanhamento se traduziu em uma combinação de ações, articulações, pesquisas, eventos, visitas e análises críticas que ajudaram a qualificar o debate público sobre currículo, equidade e implementação nas redes de ensino.

Ao longo do ano, o Movimento promoveu e participou de encontros, fortaleceu espaços de construção coletiva, como os Grupos de Trabalho, apoiou pesquisas aplicadas e realizou processos de escuta com gestores, técnicos e educadores de diferentes territórios. Em paralelo, o Observatório sistematizou e analisou políticas públicas, estudos nacionais e internacionais e agendas em curso, conectando evidências externas aos desafios concretos da BNCC no Brasil.

Essa atuação reforçou uma compreensão comum que atravessa toda a retrospectiva: currículo é uma política viva. Sua efetividade depende de continuidade institucional, coerência entre políticas públicas, leitura crítica do contexto e apoio consistente às práticas pedagógicas desenvolvidas nas redes e nas escolas. A seguir, reunimos os principais aprendizados de 2025, organizados a partir de ações, análises e processos de escuta que marcaram o ano.

Currículo como política viva no debate internacional e no contexto brasileiro

Em abril de 2025, o Movimento pela Base promoveu o encontro “Reforma Curricular em Movimento”, com a participação do Professor Dr. Phil Lambert, referência internacional em políticas curriculares. O evento reuniu especialistas e organizações da sociedade civil para discutir barreiras, fatores de sucesso e estratégias para a implementação de currículos em diferentes contextos, a partir de evidências e experiências comparadas.

Professor Dr. Phil Lambert, João Paulo Derocy Cépa, gerente de Articulação e Advocacy do Movimento pela Base, e Patrick Tranjan, secretário municipal de Educação de Belém (PA), durante o encontro Reforma Curricular em Movimento, que debateu os desafios da implementação da BNCC.

 

Com base em trajetórias observadas em países como Austrália, Japão e Reino Unido, Lambert reforçou que currículos não se realizam de forma isolada. Sua força está no alinhamento entre formação docente, avaliação, materiais didáticos, gestão e financiamento. Entre os fatores recorrentes para uma implementação bem-sucedida, destacaram-se o engajamento das redes desde o início dos processos, a formação contínua conectada às aprendizagens esperadas, o alinhamento entre políticas públicas, a flexibilidade para adaptação aos contextos locais e o monitoramento com foco pedagógico.

O debate dialogou diretamente com os desafios brasileiros e reforçou a importância da continuidade institucional, do fortalecimento das equipes técnicas e do diálogo permanente com as escolas como condições essenciais para que a Base Nacional Comum Curricular se concretize na prática.

Grupos de Trabalho como espaços de construção coletiva nas etapas finais

Em junho de 2025, o Movimento pela Base ampliou seus espaços de articulação com a criação de dois novos Grupos de Trabalho (GTs) dedicados aos Anos Finais do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio. Esses novos grupos se somaram aos GTs já existentes de Educação Infantil e Anos Iniciais, fortalecendo a atuação do Movimento em todas as etapas da educação básica.

GT de Anos Finais

Reunião dos Grupos de Trabalho do Movimento pela Base marca a ampliação dos espaços de articulação nas etapas finais, fortalecendo o diálogo entre redes e a construção coletiva de caminhos para a implementação da BNCC.

 

 

Os encontros inaugurais dos novos GTs reuniram organizações parceiras e especialistas para aprofundar debates sobre a transição entre etapas, a permanência dos estudantes e os aprendizados acumulados desde a homologação da Base Nacional Comum Curricular. A ampliação dos Grupos de Trabalho permitiu ampliar o olhar sobre desafios específicos das etapas finais, sem perder a conexão com os aprendizados já construídos nos anos anteriores.

A partir desse início, os GTs passaram a se reunir ao longo do ano, consolidando-se como espaços regulares de diálogo, troca de experiências e construção coletiva. Esses encontros contribuíram para aprofundar análises, compartilhar desafios vivenciados pelas redes e alinhar entendimentos sobre caminhos possíveis para fortalecer a implementação da BNCC em diferentes etapas da educação básica.

Os Grupos de Trabalho também passaram a integrar o planejamento estratégico do ciclo 2025–2030, com foco em três eixos prioritários: currículo, avaliação e coordenação nacional. Ao longo desse processo, reforçou-se a compreensão de que avançar na implementação da BNCC exige reconhecer os desafios específicos de cada etapa e apoiar as redes no cotidiano da implementação, respeitando contextos e trajetórias distintas.

Leituras críticas que atravessaram o meio do ano

Ao longo do primeiro semestre de 2025, o Movimento pela Base acompanhou e analisou criticamente o debate em torno da elaboração do novo Plano Nacional de Educação (PNE). As reflexões destacaram a importância de o plano estabelecer metas claras, mecanismos de governança e acompanhamento capazes de sustentar políticas curriculares no médio e longo prazo, com a BNCC como pilar central para garantir direitos de aprendizagem e equidade no sistema educacional

Em agosto, a atenção se voltou à Política Nacional Integrada da Primeira Infância (PNIPI), instituída por decreto federal. A análise realizada pelo Observatório destacou como a política fortalece a coordenação intersetorial e cria bases para monitoramento e avaliação das ações voltadas às crianças de 0 a 6 anos, além de reforçar o papel da BNCC como referência pedagógica para a Educação Infantil, especialmente na articulação entre cuidado, educação e desenvolvimento integral.

Em setembro, o debate sobre competências socioemocionais ganhou destaque a partir da análise de pesquisas internacionais, como a entrevista com o pesquisador Filip De Fruyt. As reflexões reforçaram a importância de tratar essas competências de forma integrada ao currículo, em consonância com as competências gerais da BNCC, e de reconhecer sua relação direta com equidade, saúde mental e aprendizagem ao longo da vida

Essas leituras, distribuídas ao longo do ano, contribuíram para qualificar o debate educacional e sustentaram discussões que se aprofundariam nos meses seguintes, especialmente aquelas relacionadas à implementação curricular e ao uso de evidências para apoiar a tomada de decisão nas redes de ensino.

Evidências para avançar na implementação da BNCC Computação

Em setembro de 2025, um dos marcos do segundo semestre foi o lançamento da pesquisa “Currículos de Computação: Levantamento e Recomendações”, realizada em parceria com a Fundação Telefônica Vivo. O estudo trouxe um diagnóstico inédito sobre a presença da Computação nos currículos brasileiros e ofereceu subsídios práticos para apoiar redes, gestores e educadores na implementação da BNCC Computação.

O levantamento mostrou que, em 2024, apenas 15% dos estados tinham a Computação como componente obrigatório, evidenciando um cenário ainda inicial de consolidação. A análise de experiências internacionais revelou diferentes modelos de implementação, mas destacou elementos comuns, como investimento em formação docente contínua, produção de materiais didáticos, definição clara de estratégias curriculares e criação de mecanismos de monitoramento com foco pedagógico.

Entre os exemplos nacionais analisados, o Espírito Santo se destacou pelo modelo transversal adotado, que integra a Computação ao currículo desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Os achados reforçaram que avançar nessa agenda exige planejamento, coordenação e apoio técnico contínuo às redes, especialmente em um contexto de ampliação do debate sobre competências digitais e equidade educacional.

Papo da Base e a escuta dos territórios como eixo da implementação

Em novembro de 2025, o Movimento pela Base realizou mais uma edição do Papo da Base, reunindo representantes de 24 estados e do Distrito Federal em Brasília para um processo estruturado de escuta ativa sobre os desafios da implementação da Base Nacional Comum Curricular. Ao longo de dois dias, gestores, equipes técnicas, conselhos, especialistas e organizações parceiras dialogaram sobre evidências, práticas e caminhos construídos nos territórios para traduzir a BNCC em políticas e ações concretas.


Participantes do Papo da Base 2025, realizado em Brasília, encontro que reuniu representantes de redes estaduais e municipais de 24 estados e do Distrito Federal, além de conselhos de educação, especialistas e organizações da sociedade civil, para discutir a implementação da BNCC a partir das experiências dos territórios.

As discussões evidenciaram convergências importantes entre redes de diferentes portes e contextos, especialmente a necessidade de fortalecer equipes técnicas, alinhar expectativas entre níveis de gestão e garantir apoio contínuo às escolas. A partir da apresentação de evidências acumuladas pelo Movimento pela Base, como o Raio X da Implementação e os resultados atualizados da QualiBNCC, o encontro aprofundou reflexões sobre formação docente, coerência curricular, uso pedagógico das avaliações e articulação entre currículo, materiais e acompanhamento.

Mais do que um espaço de debate, o Papo da Base consolidou-se como um ambiente de construção coletiva entre territórios. As sínteses produzidas pelos participantes reforçaram que a implementação da BNCC se fortalece quando políticas dialogam diretamente com quem está na ponta, reconhecendo contextos locais e promovendo aprendizagem institucional compartilhada

O Encontro Anual dos Grupos de Trabalho como síntese do ciclo

Em dezembro de 2025, o ano se encerrou com o Encontro Anual dos Grupos de Trabalho, realizado em São Paulo, reunindo integrantes dos quatro GTs do Movimento pela Base — Educação Infantil, Anos Iniciais, Anos Finais e Ensino Médio — além de especialistas, representantes de redes e organizações parceiras. O encontro teve como objetivo analisar os aprendizados acumulados ao longo do ano e construir referências comuns para orientar o ciclo seguinte.

Participantes do Encontro Anual dos Grupos de Trabalho do Movimento pela Base, edição 2025, realizado em São Paulo, com representantes dos GTs de Educação Infantil, Anos Iniciais, Anos Finais e Ensino Médio.

 

 

 

As mesas de diálogo aprofundaram evidências e conceitos centrais para a implementação da BNCC. Estudos de caso apresentados pela FGV mostraram que redes com continuidade institucional, prioridades claras e apoio técnico consistente tendem a apresentar avanços mais sustentáveis, destacando a importância de práticas de monitoramento conectadas à realidade das escolas. A discussão sobre o QualiBNCC, a partir da revisão do instrumento após o piloto de 2024, reforçou seu uso como apoio formativo à gestão pedagógica, com atenção às especificidades da Educação Infantil.

O debate sobre Ciência da Implementação, conduzido pela Fundação Carlos Chagas e pelo Todos Pela Educação, trouxe o conceito de infraestrutura de implementação, enfatizando o papel das equipes técnicas, das instâncias intermediárias e da liderança escolar na tradução das políticas curriculares em prática. A diversidade também foi afirmada como eixo estruturante da implementação, destacando que a efetividade da BNCC depende do reconhecimento das identidades, dos territórios e das trajetórias dos estudantes.

Ao final do encontro, os GTs apresentaram diagnósticos e prioridades compartilhadas para 2026, com convergências claras entre as etapas. Fortalecer a formação docente baseada na prática, aprimorar a gestão pedagógica, integrar currículo, materiais e avaliação e apoiar as escolas de forma contínua emergiram como pautas centrais. O Encontro Anual consolidou, assim, as sínteses de um ano marcado por articulação, escuta e produção de evidências, reafirmando princípios que orientarão o próximo ciclo de implementação da BNCC.

Encerrar o ano fortalecendo caminhos para a implementação

Ao longo de 2025, o Movimento pela Base aprofundou sua atuação na agenda de implementação da Base Nacional Comum Curricular a partir de uma combinação entre articulação, produção de conhecimento, leitura crítica do cenário e escuta qualificada dos territórios. Os aprendizados acumulados ao longo do ano reforçam que avançar na garantia dos direitos de aprendizagem exige continuidade institucional, coordenação entre políticas públicas e apoio consistente às redes e às escolas.

Os diferentes momentos que marcaram o ano, desde o diálogo com experiências internacionais, a ampliação dos Grupos de Trabalho, as análises de políticas e pesquisas, até os processos de escuta e síntese coletiva, apontam para uma compreensão comum: currículo é uma política viva, que se constrói no tempo, no território e na prática pedagógica cotidiana.

Ao encerrar 2025, o Movimento pela Base reafirma seu compromisso de contribuir para uma implementação da BNCC sustentada por evidências, orientada pela equidade e construída de forma colaborativa. Os aprendizados deste ano oferecem referências importantes para o próximo ciclo e reforçam que fortalecer a BNCC é um processo coletivo, que depende do diálogo permanente entre redes, gestores, educadores e organizações da sociedade civil.