Dia 13 de dezembro, o Movimento pela Base realizou o Seminário de 3 anos da BNCC da Educação Básica. Apresentamos os avanços da implementação da Base Nacional Comum Curricular na Educação Infantil e do Ensino Fundamental, debatemos a chegada do Novo Ensino Médio nas escolas em 2022, a importância do alinhamento das avaliações no processo de implementação e os desafios que ainda estão por vir. Assista ao vídeo que resume o encontro:
Alice Ribeiro, diretora de articulação do Movimento pela Base, iniciou o Seminário enfatizando as perdas causadas pela pandemia entre 2020 e 2021 e o papel da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação: “As desigualdades educacionais, o desafio da evasão escolar e das defasagens de aprendizagem que tínhamos no Brasil ficaram ainda maiores. Temos muito o que fazer para garantir que crianças e jovens estejam na escola aprendendo o que têm direito. Se antes da pandemia já era importante o país contar com uma BNCC, que explicita esses direitos, com a pandemia isso se tornou essencial”. O evento foi transmitido de forma online e pode ser visto na íntegra neste link.
A seguir, veja alguns dos destaques da transmissão:
A BNCC chega nas escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental
Kátia Schweickar, professora da Universidade Federal do Amazonas e ex-Secretária de Educação de Manaus (AM), foi a mediadora da mesa que mostrou uma pesquisa realizada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) sobre os efeitos positivos da BNCC nas escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Além disso, profissionais da educação de Canarana (MT) e de Caruaru (PE) mostraram como estão fazendo com que as orientações da BNCC e dos currículos transformem as suas práticas.
Veja abaixo quem esteve presente e algumas de suas falas:
Manuel Palácios, Coordenador geral do CAEd/UFJF, e ex-Secretário de Educação Básica:
“A BNCC é um esforço de traduzir o direito à educação em termos de aprendizagem. Mostra o que a escola deve assegurar para todos, quais são as linhas mestras dos conhecimentos e habilidades para os estudantes entrarem na vida coletiva, com condições de criar, trabalhar e lidar com as diferentes situações.”
A Base, que começou a ser construída em 2015 e 2016, mostra resultados na escola: “O percurso de lá para cá nos surpreendeu a todos, por muitas e diferentes razões. Havia a expectativa de que a Base estaria presente no cotidiano docente, e pela pesquisa notamos que isso já ocorre.”
“BNCC sempre foi um esforço para discutir e detalhar o direito à educação, o direito para todas as crianças de aprender.”
Elaine Noeli Elsenbach, Técnica da Secretaria Municipal de Canarana (MT) e Embaixadora da BNCC:
“Planejar para a coleta de evidências nos traz elementos de saber se realmente a aprendizagem está acontecendo ou não, e quais intervenções precisam ser feitas a partir disso.”
“Hoje, os professores da rede que participaram da caminhada da implementação conseguem olhar para as habilidades da BNCC e extrair o que é importante.”
“Para a BNCC chegar ao estudante, isso implica passar pelo professor. Porque ele tem que mudar o foco, que antes era centrado no ensino e carregado de intencionalidade do professor, e agora precisa ser voltado para a aprendizagem. Toda aula precisa ter o olhar para o aluno e para o que ele precisa aprender. Não é muito simples fazer essa transformação, porque por muitos anos a preocupação foi em preparar uma boa aula. Hoje, além de dar uma boa aula, precisamos partir do que o aluno precisa aprender.”
Joselene dos Santos Silva, professora do 4º ano do ensino fundamental em Canarana (MT):
“A BNCC nos provoca pensar em experiências que levem o aluno a aprender na prática.”
“Eu sinto que a BNCC mudou a minha prática em sala de aula. Trouxe a ideia de um aluno protagonista da aprendizagem e nos colocou em um lugar de transformação.”
Joana Darc Andreza, técnica da Secretaria Municipal de Caruaru (PE):
“Enquanto proposta pedagógica (na retomada das aulas), Caruaru olhou para trás com um projeto de recuperação de aprendizagens e, para frente, com um projeto de aceleração.”
“Fizemos um alinhamento sistêmico das políticas pedagógicas em Caruaru, com alinhamento curricular, e pensamos: o que os nossos estudantes devem ser capazes de saber? Que habilidades os estudantes precisam desenvolver e quais habilidades anteriores eles precisam ter construído antes de avançar?”
Novo Ensino Médio: necessidades e desafios
Paulo Andrade, Diretor de Educação do Instituto Iungo, foi o mediador da discussão sobre necessidades e desafios do Novo Ensino Médio. Veja abaixo quem esteve presente e algumas de suas falas:
Maria Vitoria Pereira Barbosa, estudante do 2o ano do Ensino Médio em Niquelândia (GO):
“Quando eu terminar o Ensino Médio, quero fazer direito, fazer curso para a polícia e ajudar a sociedade. O projeto de vida trabalha o autoconhecimento do aluno, faz ele se conhecer, quais seus valores e qualidades, defeitos, para ele saber o que quer fazer profissionalmente, por amor.”
Kátia Smole, Diretora do Instituto Reúna e ex-Secretária de Educação Básica:
“O Brasil precisava fazer uma mudança no Ensino Médio. Tínhamos pouco espaço para a voz do jovem, para o sonho. É uma luta para estar no Ensino Médio, aprender no Ensino Médio e seguir a vida entendendo seus sonhos e expectativas, sendo protagonista da sua história.”
“O Projeto de Vida é parte da BNCC e ganha bastante ênfase na nova arquitetura do EM. Não se trata de inventar algo, mas de ajudar a pessoa a empreender aquilo que ela sonha. A função do projeto de vida é ouvir, ter uma escuta sensível, pensante, e ajudar os jovens nessa trajetória”.
“A BNCC traz altas expectativas não só sobre o que se espera que os estudantes aprendam na escola, mas sobre como eles aprendem e sobre que pessoas eles se tornarão”.
Raquel Teixeira, Secretária Estadual de Educação do Rio Grande do Sul:
“Estamos vivendo uma mudança profunda na escola e todos os professores e gestores escolares precisam perceber isso. Cabe ao diretor, pela liderança que exerce, mostrar para toda a comunidade a pertinência, a relevância e a urgência dessa mudança. E criar um ambiente em que professores e alunos queiram aprender juntos.”
“A partir de agora, temos a oportunidade de ter uma escola que fala a linguagem dos alunos e oferece o protagonismo e o projeto de vida para que façam as escolhas certas e transformem a escola em uma comunidade de aprendizagem, de todas as aprendizagens.”
João Paulo Araujo, Diretor da escola estadual Dr. Pompílio Guimarães, de Leopoldina (MG):
“Quando a gente chegou na gestão da nossa escola, a proposta foi de que os alunos tivessem o direito de escolha. O Novo Ensino Médio oportuniza que os alunos não tenham que seguir um caminho imposto pela condição social, mas que possam enxergar que a escola potencializa o combate à desigualdade.”
Novo Enem: histórico e novas orientações
Maria Helena Guimarães de Castro, Presidente do Conselho Nacional de Educação, falou sobre o Enem:
“O CNE entende que as competências e habilidades da etapa da Formação Geral Básica serão aprofundadas na segunda etapa dos itinerários formativos. Não podemos defender que vamos ter a mesma matriz de competências e conhecimentos na primeira e na segunda etapas do exame.”
“As matrizes do ENEM são o ponto mais importante para que tenhamos uma avaliação alinhada à BNCC, à formação geral básica e aos itinerários formativos. Mas as definições estão atrasadas: elas deveriam ser submetidas no ano que vem, mas não temos nem as diretrizes para o ENEM, muito menos as matrizes.”
Próximos passos: a continuidade da implementação da BNCC e do Novo Ensino Médio
Alice Ribeiro, Diretora de Articulação do Movimento pela Base, foi a mediadora do painel sobre os próximos passos da implementação da BNCC e perguntou aos representantes de MEC, Undime, Consed, Foncede e Uncme seus compromissos para essa continuidade.
Maria Luciana Nóbrega, coordenadora de gestão estratégica da Educação Básica, da Secretaria de Educação Básica do MEC:
“O MEC atuou tanto no primeiro ciclo (de elaboração da BNCC), no segundo ciclo (na implementação) e, desde o final de 2020, no terceiro ciclo (de monitoramento). O monitoramento é a garantia que temos da manutenção desse processo da implementação da BNCC e de ter uma memória do processo para aperfeiçoar esse documento.”
Isabel Lima, da secretaria estadual de Roraima, representando o Consed:
“Gostaríamos de reforçar o apoio do Consed para continuar os trabalhos para alcançar os resultados de implementação da BNCC. Existem redes que ofertam praticamente todas as modalidades da educação básica. Para elas, implementar a BNCC em 2022 na sua totalidade ainda será um desafio.”
Márcia Carvalho, presidente do Foncede:
Sobre a construção de normativas do Novo Ensino Médio nas redes estaduais: “Existe um desafio em que todos os estados estão envolvidos: há um conjunto de normativas a serem realizadas para dar conta da arquitetura curricular, da oferta de itinerários formativos, da educação técnica e profissional, questão das parcerias, notório saber, aproveitamento de estudos e transferências. O Foncede continua acompanhando.”
“A partir das especificidades de cada local seguimos compartilhando as informações e construindo alinhamentos, com documentos orientadores, e sabendo que os pontos divergentes podem ser explicitados. A contribuição do Foncede é colaborar com a disponibilidade dos diferentes horizontes e realidades, e procurarmos o alinhamento nacional em relação à legislação.”
Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime e Secretário de Educação de Sud Mennucci (SP):
“A Base foi construída em um Regime de Colaboração: talvez nunca estados e municípios tenham trabalhado tão intensamente na construção de uma política pública como a BNCC.”
“Eu não tenho dúvidas de que podemos comemorar a consolidação da BNCC nestes três anos de sua construção, porque ela tem sido um farol e uma bússola para orientar e ser referência do trabalho dos educadores. Vocês conseguem imaginar o que seria do trabalho pedagógico hoje se não houvesse a BNCC? Neste período de pandemia, eu digo: ainda bem que temos a Base.”
“Nós temos o desafio de ver em 2022 a BNCC ainda mais incorporada no trabalho dos professores e na escola. A Base tem sido importante para o processo de acolhida no retorno às aulas presenciais, trazendo o olhar integral e a importância do socioemocional.”
“Agora vamos impactar na construção dos novos PPP, que serão mais qualificados, com a vivência do professor e com a BNCC, e a partir daí vamos para a construção dos planos de aula e da mudança na rotina do professor. Isso tudo muda o processo de pensar e agir pedagogicamente.”
Manoel Humberto Lima, presidente da Uncme:
“Estamos nos sentindo privilegiados de participar de um momento como esse, com uma discussão tão ampla e tão significativa para a educação brasileira. Temos a convicção de estarmos no caminho certo. O ano de 2022 será decisivo, porque se a pandemia nos deixar e terminar essa angústia, o olho no olho nas equipes pedagógicas dentro das escolas, com o currículo alicerçado pelo PPP e na formação de professores, teremos instrumentos para que nós, dos conselhos municipais de educação, possamos exercer com determinação e objetividade nosso papel dentro do sistema municipal de ensino.”
Para assistir ao Seminário na íntegra, acesse este link.