Os direitos de aprendizagem foram o tema central do II Seminário Internacional SESI de Educação, realizado no dia 28/02 em Brasília com apoio do Movimento pela Base. O evento foi transmitido pelo Youtube do SESI, e contou com a participação de representantes do Ministério da Educação e do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).
O primeiro painel, Políticas públicas: Debates para o novo Plano Nacional de Educação (PNE) 2024-2034, teve a participação de:
- Maria Helena Guimarães, vice-presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo;
- Rafael Lucchesi, Diretor Superintendente do Departamento Nacional do SESI;
- Maurício Holanda, Secretário de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino (MEC) e
- Alice Ribeiro, Co-CEO e Diretora de Articulação e Advocacy do Movimento pela Base.
Rafael Lucchesi em primeiro plano e Alice Ribeiro ao fundo
O painel trouxe discussões importantes sobre a elaboração do próximo Plano Nacional de Educação, que será válido para os próximos 10 anos. Maria Helena Guimarães apontou a necessidade de refletir sobre o que não deu certo no plano vigente e destacou pontos que devem ser tratados com urgência na agenda da educação. Entre eles, garantir uma Educação Infantil com qualidade, focar na Alfabetização e na Educação Integral e na Formação Inicial Docente. Para Maurício Holanda, “o Plano Nacional de Educação pode ser o gancho que o alpinista joga para ancorar mudanças”.
Já Rafael Lucchesi levantou a importância da formação para o mundo do trabalho.
A educação é o principal fator de competitividade de um país e necessita de reflexão de toda a sociedade. No Brasil, a gente acha que vai resolver o problema da participação dos trabalhadores no PIB brasileiro com leis no Congresso, mas é com o aumento da produtividade do trabalho, que vai dar sofisticação para os recursos humanos, para quem vai trabalhar e quem vai empreender no país. Rafael Lucchesi, Diretor Superintendente do Departamento Nacional do SESI
Leia também: Conae 2024: debates soam incoerentes com andamento da implementação da BNCC
Foco na continuidade das políticas de olho nos direitos de aprendizagem
Quando falamos das políticas públicas brasileiras, existe uma tradição de descontinuidade. Quem chega ao poder normalmente decide que a política criada por seu antecessor não serve. E começa a desenhar uma nova… Que antes de ser aprimorada – ou até concretizada – já é substituída por outra. Foi chamando a atenção do público para essa falta de continuação dos programas e estratégias traçadas na educação que Alice Ribeiro, Diretora de Articulação e Advocacy e Co-CEO do Movimento pela Base abriu sua fala.
Direitos que não podem ser explicitados, não podem ser garantidos, apoiados, monitorados. Alice Ribeiro, Diretora de Articulação e Advocacy e Co-CEO do Movimento pela Base
Alice lembrou que a BNCC existe justamente para garantir os direitos de aprendizagem de crianças e jovens durante toda a Educação Básica. Desde a Constituição de 1988, das Leis de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 e das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), o Brasil já havia determinado por lei a existência de uma base para a educação que trouxesse maior nitidez sobre o que os alunos têm direito de aprender.
Não tem nenhum país referência em educação que deixe solto para os professores definirem o que os alunos precisam aprender. Todos têm nitidez das aprendizagens que precisam ser desenvolvidas. Alice Ribeiro, Diretora de Articulação e Advocacy e Co-CEO do Movimento pela Base
Ela também abordou o papel da sociedade civil nas discussões da educação, com foco na BNCC e no Novo Ensino Médio. E falou sobre o papel da comunidade na garantia da continuidade de políticas importantes. Por fim, trouxe a necessidade de construir uma escola que promova não só o desenvolvimento cognitivo, mas também olhe para o estudante em outras dimensões: física, social, emocional e cultural, de acordo com a proposta de Educação Integral explicitada pelas Competências Gerais na BNCC.
O futuro das novas gerações e o mundo do trabalho
O segundo painel, Futuro para juventudes, educação e mundo do trabalho, trouxe luz à educação profissional e técnica, com a participação de:
- Helvia Paranaguá, Secretária de Educação do DF e membro do CONSED;
- Patrícia Barcelos, diretora de Políticas e Regulação da Educação Profissional e Tecnológica do MEC;
- Leonardo Lapa, gerente de educação básica do SESI;
- Pilar Lacerda, pesquisadora associada ao DGPE-FGV RJ e Consultora Pedagógica na Lekto;
- Fernanda Flores, especialista em educação
- Maria Luíza Cerqueira, estudante do E.M SESI Bahia, que encerrou o painel.
As disccussões abordaram desde a Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), até a necessidade de repensar a formação docente, a influência da tecnologia – e especialmente da inteligência artificial – na aprendizagem e no papel do professor, e a necessidade de uma formação integral aos jovens, que olhe para o desenvolvimento de competências sociais e emocionais, como indica a BNCC. Veja alguns destaques:
Das 12 escolas pilotos do DF, 100% são a favor da permanência do Novo Ensino Médio, com ajustes. O que não dá é para retroceder para um sistema que não abarca a necessidade atual. A gente precisa ampliar a educação técnica. Helvia Paranaguá, Secretária de Educação do DF e membro do CONSED
Esse ano vamos construir a Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica e a Política de Formação em EPT. Para isso, precisamos olhar para nossos alunos e para todas as diversidades. Educação técnica precisa de laboratório, de profissionais qualificados. E os jovens precisam conhecer a força da educação técnica e como acessar. Patrícia Barcelos, diretora de Políticas e Regulação da Educação Profissional e Tecnológica do MEC
Passamos 30 anos em um projeto [de Ensino Médio] que fracassou e é importante falar isso, porque tem gente que quer voltar para esse projeto. Não podemos fingir que não aprendemos nada nesses sete anos e precisamos olhar para o que podemos melhorar, com base no que não devemos fazer. E como melhorar o Ensino Médio sem tirar o poder de escolha dos alunos, sem tirar o projeto de vida. Leonardo Lapa, gerente de educação básica do SESI
O papel do professor não acaba com a inteligência artificial, mesmo porque não acabou com o Google. Mas a nossa profissão vai mudar muito. Precisamos fortalecer e reconhecer a profissão docente como estratégica para o desenvolvimento industrial do Brasil, precisamos ter grupos de apoio e reflexão. Nossa profissão é insubstituível, mas precisamos mudar as perguntas e pensar que estamos formando para esse mundo líquido e moderno.Pilar Lacerda, pesquisadora associada ao DGPE-FGV RJ e Consultora Pedagógica na Lekto
A escola e os professores têm um papel fundamental para ajudar os jovens a atuarem no presente e se conectar com o mundo do trabalho. O grande papel dos professores é engajar os alunos, tanto no olhar de crítica, de indignação para as complexidades da sua realidade, mas também nas perspectivas de ação e protagonismo. Ter a construção do futuro a partir do presente. Fernanda Flores, especialista em educação
A aluna Maria Luíza Cerqueira, estudante do E.M SESI Bahia, encerrou o painel, trazendo sua perspectiva sobre educação:
Educação, para mim, sempre foi mais do que ir para a escola, é um valor. Então, eu precisava fazer meu ensino médio em uma escola que me motivasse a aprender e que entendia que o mundo está sempre mudando. A escola precisa abrigar os anseios dos seus alunos, e o SESI é uma escola ‘incomum’ porque olha para isso. O SESI ouve a gente e nos permite falar também. Maria Luíza Cerqueira, estudante do E.M SESI Bahia
Confira o evento na íntegra: