Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Movimento pela Base e desenvolvida pela Addere Consultoria em Políticas Públicas mostra que quanto mais próximos da escola são os responsáveis, melhor o desempenho dos estudantes. Giovanna de Mello Cardoso Pereira, consultora em políticas públicas e uma das autoras juntamente com Jessica Santos Guedes da Silva e Roberta Fernandes Ramos, explica que o escopo geral da pesquisa foi entender como se dá a comunicação entre escola e responsáveis e como ela pode ser utilizada para o bem-estar da saúde mental e o desenvolvimento integral dos estudantes.

Leia também: Boas práticas de comunicação entre escolas e famílias: conheça o guia gratuito

O levantamento, realizado entre maio e setembro de 2023, partiu de uma análise comparativa de diversas fontes, incluindo mais de cem materiais bibliográficos, entrevistas em profundidades em nove estados do país, pesquisas online e coleta de mensagens escritas por membros de diferentes comunidades escolares. Além das boas práticas, o estudo também mapeou alguns modelos de comunicação escrita de currículos atualmente adotados no Brasil e no mundo, analisando o formato e conteúdo utilizado na comunicação com as famílias.

Achados da pesquisa

Dentre os principais resultados, a pesquisa identificou que a comunicação da escola com pessoas responsáveis em relação ao conteúdo aprendido pelos estudantes foi, em muitos casos, considerada incipiente. “Essa comunicação parece estar mais concentrada em outros aspectos da vida escolar do estudante, como aspectos comportamentais e mensagens gerais sobre as atividades escolares”, explica Giovanna. 

De modo geral, foi observado que poderia haver maior aproximação entre as escolas e as pessoas responsáveis e que a participação destas na vida escolar proporciona benefícios claros à aprendizagem. Além disso, as próprias pessoas responsáveis também ressaltaram que gostariam de estar mais presentes, apesar das dificuldades advindas de fatores como rotina de trabalho intensa e tempo de deslocamento ao trabalho.

Para efetivar essa comunicação, um cenário ideal identificado na pesquisa seria uma estratégia que não se pautasse apenas em comunicar as dificuldades dos alunos, mas sim acontecesse de maneira empática e em diversas frentes, com recursos como boletins, vídeos e documentos que expliquem, de forma objetiva, o percurso de aprendizagem dos estudantes.

A partir do momento que tem engajamento familiar, tem aumento no desempenho escolar.

Por que engajar as pessoas responsáveis por estudantes no processo de aprendizagem?

Ao buscar responder a essa pergunta, a pesquisa identificou quatro razões para ampliar o engajamento familiar:

  • Melhoria no desempenho escolar das estudantes: estudos mapeados e dados da pesquisa indicam que o engajamento e o interesse das(os) responsáveis na vida escolar de seus filhos e filhas afeta positivamente o desempenho.
  • Complementação da educação: responsáveis podem oferecer apoio adicional no processo de aprendizagem. 
  • Fortalecimento de vínculos dentro da família e na comunidade escolar.
  • Consequentemente, a escola tende a ter melhores resultados e aumento de nota nos índices educacionais, como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Outro achado é que a construção de uma relação empática e harmônica pressupõe, por sua vez, técnicas de comunicação física e verbal acolhedoras, e está diretamente relacionada ao cuidado com a saúde mental das famílias e das estudantes. “Pensando no contexto de um país como o Brasil, com famílias das mais diversas realidades, é preciso que o corpo escolar esteja atento para entender as situações vividas por elas”, aponta Giovanna.

Uma maior aproximação entre escolas e pessoas responsáveis por estudantes pressupõe empatia da gestão escolar e quadro de professores sobre as dificuldades vivenciadas pelas famílias.

Como desenvolver uma abordagem de comunicação com as famílias

Pensando na diversidade e possíveis vulnerabilidades que podem incidir sobre estudantes, Giovanna ressalta que as escolas podem pensar em uma linha de comunicação que contemple três esferas diferentes: estratégia, formato e conteúdo.

Essa comunicação, por sua vez, precisa ser aberta, empática, acolhedora, física e verbal. “A própria postura física dos educadores para se comunicar impacta no sentimento de acolhimento e proteção da saúde mental das pessoas”, destaca.

 

Ferramentas para ajudar na comunicação com pessoas responsáveis

Outro dado importante da pesquisa foi identificar que as pessoas responsáveis têm interesse genuíno em participar da vida escolar das crianças e adolescentes, mas que precisam ser munidas de instrumentos para isso, ajudando dentro de suas possibilidades e restrições.

Um dos pontos identificou, por exemplo, a importância de usar redes sociais na comunicação de maneira frequente e atrativa, além de usar ilustrações sempre que possível mostrando o que os estudantes estão desenvolvendo no dia a dia da escola.

Giovanna ressalta ainda que é preciso manter uma comunicação empática, não focar nos aspectos negativos do estudante, mostrando como as dificuldades de habilidade podem ser desenvolvidas ao longo do tempo, apresentando de forma convidativa algumas informações da matriz curricular e demais pontos positivos e dificuldades dos estudantes com o currículo, possibilitando que acompanhem o desenvolvimento de seus filhos e filhas.

Leia também: Famílias e escola se unem para garantir direitos de aprendizagem da Educação Infantil em Roseira (SP)