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Famílias e escola se unem para garantir direitos de aprendizagem da Educação Infantil em Roseira (SP)

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A primeira infância é etapa fundamental no desenvolvimento integral das crianças. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)  aponta seis direitos de aprendizagem que ancoram toda a proposta dos Campos de Experiências. São eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se.

Esses direitos se baseiam na concepção indissociável entre educar e cuidar e são colocados em prática a partir de dois eixos estruturantes: a interação e a brincadeira. É por isso que na organização curricular em Campos de Experiência, as práticas acontecem com intencionalidade pedagógica, considerando que bebês e crianças aprendem e se desenvolvem a partir de experiências. Mas como garantir brincadeiras e práticas com intencionalidade pedagógica em um contexto pandêmico, onde crianças foram afastadas do convívio escolar?

Para a monitora Conceição Carvalho, que atua há sete anos no berçário da Emei Tereza de Jesus Trannin Pasin, em Roseira (SP), a solução foi estreitar os laços com as famílias e construir com elas uma comunicação por redes sociais pautada na escuta e no acolhimento, não só das crianças, mas também da rede parental, que assumiu grandes e novos desafios durante o período de isolamento social.

A família como parceira na implementação da BNCC

As rotinas pedagógicas de uma creche devem olhar a criança como um sujeito de direitos e particularidades. Ela precisa ter ao seu alcance cuidados que considerem sua individualidade: que tipo de história ela gosta de ouvir, o que ela gosta de comer, como ela aprende e que práticas de cuidado em casa podem dialogar e fortalecer o que é proposto na escola – e vice-versa.

As práticas que Conceição aplicava presencialmente se baseavam nesse olhar individualizado. “Sempre quero conhecer as particularidades de cada criança, saber que músicas ela escuta, o que pode ajudá-la a se acalmar. A ideia é sempre criar uma rede de referências pessoais para acolhê-la”, conta. Por isso, todo começo de ano, é realizada uma reunião com os pais, para entender melhor os gostos e hábitos de cada criança e fazer a transição casa-escola da maneira mais tranquila possível.

Com o início da pandemia, manter o vínculo com as crianças se tornou uma preocupação imediata. “Além de manter o contato, foi preciso pensar em formas de fazê-lo durar”, lembra a monitora. A solução para manter a relação com crianças e dar continuidade às atividades de aprendizagem e desenvolvimento foi contar com a ajuda dos pais.

A educadora criou um grupo de WhatsApp com os responsáveis pelas crianças, para manter diálogos mais recorrentes. O que surgiu ali, entretanto, foi uma apropriação dos preceitos da BNCC pelas própria famílias, que resultou em brincadeiras e atividades planejadas em conjunto com a monitora.

“Quando faço uma proposta, as famílias dão a devolutiva, sem pressa ou cobrança. Isso criou um elo forte”, compartilha a monitora. Ela sugeriu a uma mãe, por exemplo, realizar uma atividade de empilhamento, propondo uma brincadeira na qual, empilhando objetos, a criança pode desenvolver habilidades como distinção de formas, equilíbrio, interação com materiais diferentes e colaboração. Essa mãe colocou a atividade em prática, outras mães acabaram fazendo também e monitora pode acompanhar a performance das crianças por meio dos vídeos nas redes sociais.

Se antes da pandemia a monitora já se interessava em implementar a BNCC e usá-la como referência para suas metodologias de acolhimento e cuidado, durante o isolamento, onde a necessidade do vínculo se provou mais do que fundamental, Conceição têm voltado cada vez mais o documento. “Na BNCC, tem toda orientação de que preciso. Quando quero sugerir alguma atividade que incentiva autonomia, crio uma prática a partir das diretrizes indicadas na Base”.

Um dos movimentos que também chama a atenção de Conceição é que, para além de buscarem orientações para garantir o desenvolvimento das crianças, os pais e responsáveis passaram a conversar entre si, criando uma rede de apoio. “Eles vão conversando entre si, sanando dúvidas, dividindo angústias desses tempos de pandemia”.

Brincadeiras e leituras para o desenvolvimento

A partir do Campo de Experiências “Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação”, Conceição desenvolvia na creche práticas com histórias, marionetes e momentos de manuseio de livros. Isso gerou uma rotina chamada “sacolinha de leitura”. A partir da biblioteca da escola, havia um incentivo para que as crianças levassem livros para casa, dando continuidade à leitura com a família. Com o advento da pandemia, Conceição manteve a atividade por meio das videoconferências.

“Posto semanalmente uma sugestão de livro. Os pais tentam ler essas histórias e gravam as reações das crianças à contação”, explica. No mês de novembro, em que a sugestão de leitura era o clássico Menina Bonita de Laço de Fita, de Ana Maria Machado, a monitora recebeu vários vídeos de crianças usando fitas e se empolgando com a leitura. Há muitas maneiras de manter os laços: independente da distância.

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