Condições de infraestrutura e práticas leitura em sala variam por região e tipo de dependência administrativa

 

Por Fundação Maria Cecília Souto Vidigal

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece as interações e as brincadeiras como eixos estruturantes para a promoção de aprendizagens na Educação Infantil. No entanto, dados do estudo “Qualidade da oferta da Educação Infantil no Brasil: análise do Saeb 2021” revelam que é baixa a frequência de equipamentos voltados para o público infantil nas escolas, tais como gira-gira (46,2%), gangorra (38,5%), brinquedo de escalar (35%) e balanço (34,3%).

O estudo, elaborado por pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais (LaPOpE) da UFRJ, em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), apresenta análises inéditas realizadas com dados do Censo Escolar 2022 e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) da Educação Infantil de 2021. O objetivo foi fornecer um diagnóstico sobre a qualidade as desigualdades educacionais na Educação Infantil.

“Na primeira infância as crianças aprendem em situações nas quais desempenham um papel ativo. Por isso a brincadeira é tão importante. A escassez de infraestrutura deve ser vista como uma prioridade na busca por melhoria na qualidade da oferta da Educação Infantil”, enfatiza Tiago Bartholo, Doutor em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

“Faz parte do processo de aprendizagem se movimentar ao ar livre e explorar o meio ambiente”,

Tiago Bartholo

Além da baixa incidência de equipamentos como gira-gira e balanço, o estudo mostra que a presença destes recursos varia entre regiões e dependência administrativa.

A partir de um indicador simples que considera a soma dos sete equipamentos voltados para o público infantil (tanque de areia, gira-gira, gangorra, escorregador, casinha, balanço e brinquedo para escalar), foi observado que escolas da região Norte e Nordeste, na média, apresentaram 2,2 e 2,1 equipamentos, respectivamente.  Já as escolas das regiões Sudeste e Centro-Oeste apresentam, em média, 4,0 e da região Sul, 4,8 equipamentos. No que diz respeito à dependência administrativa, as escolas públicas apresentam, na média, 3,2 equipamentos, enquanto as escolas privadas conveniadas 4,0 e as não conveniadas, 4,3.

Leitura para as crianças

A BNCC também estabelece a organização curricular na educação infantil a partir de campos de experiências, baseados nas situações concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes. Entre esses campos está o campo  “Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação”.

Por isso, tão importante quanto os brinquedos, está a contação de histórias. No entanto, “Qualidade da oferta da Educação Infantil no Brasil: análise do Saeb 2021”, revela que o acesso a livros está aquém do desejado: 72% das crianças da rede pública manuseiam livros diariamente, enquanto a rede privada apresenta valores maiores, 85%.

Com relação à leitura em sala de atividades, 15% dos professores indicaram que discordam ou discordam fortemente da afirmação “eu leio livro para as crianças todos os dias”.

Para a professora associada da UFRJ, Mariane Koslinski, pesquisadora do LaPOpE e coautora do estudo, esse cenário é preocupante. “A contação de histórias e a leitura de livros são práticas pedagógicas que deveriam fazer parte da rotina diária de todas as turmas da educação infantil. As histórias auxiliam as crianças a refletirem sobre suas próprias vidas e as de seus colegas, além de estimular a imaginação e a criatividade”, justifica.

“A literatura contribui também para o desenvolvimento de capacidades como falar, pensar e conviver”

Mariane Koslinski

Avaliar para melhorar

Embora desde 2014 o Plano Nacional de Educação (PNE) reforce a importância de uma avaliação da educação infantil a cada dois anos, essa é a primeira vez que o Saeb se propõe a olhar para essa etapa. Para Mariana Luz, CEO da FMCSV, esse
estudo é um marco significativo, uma vez que permite um diagnóstico sobre a qualidade da educação infantil no Brasil e põe luz a caminhos que podem ser traçados.

“A avaliação da educação infantil permite monitorar a qualidade do que está sendo ofertado às crianças em dimensões como infraestrutura física e práticas pedagógicas. Com isso, é possível elaborar estratégias condizentes com a BNCC e subsidiar a elaboração de políticas públicas que garantam que as estratégias sejam alcançadas”, finaliza.