“Sou Joselene dos Santos Silva, professora do Ensino Fundamental na rede pública do Estado de Mato Grosso. Em 2021, trabalhei com o 4º ano da Escola EMEB Pioneiros, no município de Canarana, e no Núcleo de Produção de Atividades Remotas (NUPAR) da secretaria municipal. São doze anos de sala de aula lecionando na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Antes da BNCC, eu planejava minhas aulas de acordo com o que queria ensinar, mas hoje tenho como referência os documentos que trazem as aprendizagens que o aluno precisa. Eu sinto que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) mudou a minha prática em sala de aula porque trouxe um novo olhar para a educação. Existe a preocupação sobre como o aluno aprende, o que precisa desenvolver e o que já sabe.Como a ideia da BNCC é de um aluno protagonista, é necessário preparar nossas aulas tendo isso em mente. É preciso estudar, realizar formações continuadas para melhor entender as habilidades e então alcançar o objetivo maior, que é a aprendizagem dos estudantes.

Veja também: Seminário de 3 anos da BNCC da Educação Básica: destaques do encontro

Veja também: Trabalho coletivo em Canarana (MT) para priorizar objetivos e habilidades

Veja também: Em Canarana (MT), o estudo da BNCC e do currículo é constante

Desde 2021, nós, professores da rede municipal de Canarana, no Mato Grosso, selecionamos as habilidades e definimos os objetivos de aprendizagem de forma coletiva. Os dados são compartilhados de forma online em planilhas, o que serve de ferramenta para os planejamentos semanais de todos. Já na definição das estratégias para o alcance do que está proposto, cada professor tem autonomia para organizar e planejar a aula de acordo com as características e necessidades da turma. A partir do que é escolhido pelo grupo, procuro sempre trabalhar com os meus alunos atividades que despertem a curiosidade, de forma que sejam ativos e se envolvam com propostas alegres, dinâmicas e criativas.

Um exemplo foi a decisão por trabalharmos um gênero textual por semana. Para o gênero “entrevista”, abordamos uma habilidade que traz situações formais de escuta de exposições, apresentações e palestras. Os alunos escolheram que o tema das conversas seria a Covid-19 e me surpreenderam com as entrevistas feitas com a comunidade escolar: eles discutiram, elaboraram o roteiro de perguntas, entrevistaram pessoas da escola, produziram e realizaram a proposta com muito envolvimento. Os resultados ficaram acima das expectativas! Outra situação de aprendizagem significativa foi o projeto “vereador mirim”, com foco na habilidade prevista na BNCC de Geografia de distinguir as funções e papéis dos órgãos públicos. Nesse projeto, os alunos se colocaram na função de vereadores e deveriam elaborar uma proposta de melhoria para o ambiente escolar visando um benefício coletivo. Com a minha mediação no processo, cada aluno elaborou a apresentação de suas propostas e fizemos a votação da melhor delas. Nesse momento, foi exercitada a escuta e autonomia de escolha, e cada um teve a oportunidade de votar na proposta que julgou mais interessante. Foi feita simulação de uma eleição de verdade, com uso da urna, apuração e registro dos votos. No final do projeto, juntamente com a escola, premiamos o ganhador, que ficou como representante da sala. Vale reforçar que essa atividade foi pensada a partir do que a habilidade traz e dos objetivos que foram definidos pelo grupo de professores do 4º ano da rede. Com a atividade, os alunos tiveram a oportunidade de olhar para a realidade local e se colocar numa posição de agente público.

A BNCC nos provoca a pensar experiências que levem o aluno aprender na prática, o que é muito prazeroso. Em outras épocas talvez o gênero “entrevista” não seria escolhido por mim para ser trabalhado, mas com a BNCC nós temos um norte do que o aluno precisa aprender. Ela nos guia, porém cabe a nós estudar muito para poder ajudar nossos alunos a garantir seus direitos de aprendizagem.

Sabemos que junto à BNCC veio também a pandemia, mas o documento já trazia nas competências gerais, entre outros aspectos, a intencionalidade do desenvolvimento da empatia, do respeito e do cuidado com o outro. Então, se a BNCC já vinha trazendo isso, hoje faz-se ainda mais necessário essa atenção com o outro e com a aprendizagem dos alunos.

A BNCC é uma mudança que me leva a repensar todos os dias em como planejar atividades interessantes que possibilitem que o meu aluno aprenda aquilo que precisa. De tudo o que aprendemos em 2021, penso que a troca entre os professores de Canarana e a organização na rede como um todo nos deixou mais preparados, mais confiantes e seguros para a ação e mediação pedagógica na escola.”

Últimas