“Olá, sou a professora Nubete Martins da Silva. Trabalho no Acre, no município de Brasileia, que tem cerca de 26.702 habitantes. Moro na fronteira com a cidade de Cobija, na Bolívia.

Leciono há mais de vinte anos. Durante essa jornada tive a oportunidade de vivenciar muitas experiências enriquecedoras ao meu processo de aprendizagem, entre elas exercer a função de coordenadora pedagógica em uma escola de Zona Rural. Atualmente faço parte do corpo docente de duas escolas: a Escola Municipal de Ensino Fundamental I Maria Socorro de Souza Frota, lecionando para uma turma de 5º ano; e Escola Estadual de Ensino Fundamental II Instituto Odilon Pratagi, ensinando Língua Portuguesa nas turmas de 9º ano.

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A escola Socorro Frota está localizada numa área periférica do município, com muitos alunos oriundos da zona rural, ribeirinhos, bolivianos e colombianos, com acesso difícil no período das chuvas, o que torna a nossa prática diária desafiadora. Apesar das dificuldades enfrentadas, nossos alunos são aguerridos, o que só nos motiva a inovar mais e mais. Eu me considero privilegiada, pois trabalho na escola com o melhor IDEB do município e eu faço parte!

Em 2023, o ano letivo começou em abril. Durante a primeira semana de aula, sempre busco desenvolver atividades que possam me ajudar a conhecer um pouco da realidade de cada aluno, com incentivo a falarem sobre seu dia a dia, família, amigos, brincadeiras, sonhos, sempre atenta e com um olhar carinhoso. As crianças chegam à escola com um misto de ansiedade, medo, felicidade e suas reações dependem de como serão acolhidas. Este ano programei uma atividade diferente para minha turminha, e a reação deles foi maravilhosa! Na entrada da sala de aula afixei um cartaz com símbolos de abraço, aperto de mão, dancinha ou de batida de mãos, e as crianças escolhiam e nós fazíamos o movimento. Fiquei emocionada com a receptividade e a carinha feliz de cada um, e pelos comentários positivos durante a roda de conversa.

A pandemia acabou, mas as dificuldades aumentaram em relação à rotina anterior a 2020. Como a maioria de nossos alunos vivem uma realidade socioeconômica complicada, alguns em área de vulnerabilidade social, muitos se dispersaram e não tiveram contato com a escola durante quase dois anos. Infelizmente isto está refletindo não somente nos 5º e 9º anos, mas em todos os anos. Se antes tínhamos uma turma onde dois ou quatro alunos tinham dificuldades, hoje esses dois ou quatro são os avançados, ou seja, me vejo trabalhando numa sala multisseriada onde preciso alfabetizar e avançar os demais.

Muitas vezes sinto uma impotência gigantesca e penso que não darei conta. Mas é nesse momento que paro, reflito a minha prática e entro em sala novamente igual a “Mulher Maravilha”, cheia de coragem e humildade para prosseguir. Lanço mão do diagnóstico inicial e me replanejo em cima das dificuldades identificadas. É hora da recomposição da aprendizagem.

As Fichas de recomposição da aprendizagem elaboradas pelo Movimento pela Base disponíveis também no site da Revista Nova Escola têm feito parte da prática diária com minha turma de 5º ano. Após o diagnóstico inicial, percebi que deveria retomar alguns conteúdos seriamente impactados na pandemia. Durante a sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos na aula, percebi que apenas o reforço escolar não seria suficiente para sanar esse déficit, mas que deveria entender em qual nível os estudantes estão e planejar, adaptar as atividades que melhor se adequam e desenvolver o conteúdo proposto.

As propostas de Língua Portuguesa e de Matemática são priorizadas, e meu anseio é que os alunos do 5º ano estejam até o primeiro semestre lendo com autonomia e dominando as quatro operações. Ao longo do segundo semestre, o objetivo é que eles estejam produzindo pequenos textos e desbravando a matemática.

Por isso, ao longo do ano, seguimos na recomposição das aprendizagens e trabalhando com atividades diversificadas para que todos avancem. Também estamos nos preparando à aplicação da avaliação que compõe o IDEB, então estar atenta aos descritores é de suma importância.”