Com provas coloridas e Cartão-resposta ampliado para pessoas com deficiência visual, o Exame Nacional do Ensino Médio 2023 aconteceu nos dias 05/11 e 12/11.
No primeiro dia, 71,9% dos inscritos realizaram a prova de Linguagens, Ciências Humanas e Redação. No segundo dia, 68% compareceram à prova de Ciências da Natureza e Matemática. Os gabaritos oficiais já foram divulgados e o prazo para solicitar a reaplicação vai até o dia 17 de novembro.
A edição de 2023 totalizou quase 4 milhões de estudantes inscritos. Isso representa uma alta de 13,1% em relação a 2022, quando foram quase 3.5 milhões de inscritos. Ainda longe do recorde de 8,6 milhões candidatos em 2016, o dado mostra uma melhora, principalmente se considerarmos as edições afetadas pela pandemia de covid-19.
Fomentar esse aumento é importante, mas para isso é preciso garantir que todos os estudantes consolidem as aprendizagens essenciais, especialmente com a recomposição das aprendizagens no contexto pós-pandemia.
Veja: Nota técnica do Movimento pela Base sobre a Recomposição das Aprendizagens
Entre incontáveis palpites, a tão esperada redação do ENEM 2023
A redação do ENEM desperta expectativa em estudantes e professores: ao longo de todo ano, são muitas as apostas de qual será o tema quente da edição.
Isso porque, além da etapa ter grande peso sobre a nota, o exame faz com que milhões de estudantes brasileiros, em diferentes partes do país, se debruçam sobre um tema de relevância social.
Neste ano, o tema foi: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”
A economia do cuidado se refere às atividades desempenhadas por pessoas, geralmente mulheres, que se dedicam às necessidades de outras, assim como da criação e desenvolvimento de crianças e jovens.
Apesar de ser uma parte fundamental para a sobrevivência de qualquer sociedade, aqueles – ou, mais especificamente, aquelas – que assumem esse papel, além de não serem reconhecidas, são desvalorizadas e invisibilizadas.
Confira um dos textos motivadores extraídos do exame:
“O trabalho de cuidado é essencial para nossas sociedades e para a economia. Ele inclui o trabalho de cuidar de crianças, idosos e pessoas com doenças e deficiências físicas e mentais, bem como o trabalho doméstico diário que inclui cozinhar, limpar, lavar, consertar coisas e buscar água e lenha. Se ninguém investisse tempo, esforços e recursos nessas tarefas diárias essenciais, comunidades, locais de trabalho e economias inteiras ficariam estagnados. Em todo o mundo, o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago é desproporcionalmente assumido por mulheres e meninas em situação de pobreza, especialmente por aquelas que pertencem a grupos que, além da discriminação de gênero, sofrem preconceito em decorrência de sua raça, etnia, nacionalidade e sexualidade. As mulheres são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado e compõem dois terços da força de trabalho envolvida em atividades de cuidado remuneradas.”
O documento informativo Tempo de Cuidar, da Oxfam, relacionou o trabalho de cuidado não remunerado à crise global da desigualdade.
Outro texto motivador trazia o dado de que, entre meninos e meninas de até 14 anos de idade, a quantidade de horas semanais dedicadas aos afazeres domésticos e/ou às tarefas de cuidado de pessoas, é quase o dobro entre as meninas.
Vale considerar que, segundo pesquisa do PNAD de 2019, dentre as principais causas do abandono escolar, estão a necessidade de trabalhar e a falta de interesse na escola. Se em meio a esse contexto, o aluno se depara com um Ensino Médio conteudista, que não o aproxima do mercado de trabalho, a evasão se torna a porta mais próxima.
Em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, Instituto Natura e Instituto Sonho Grande, o Todos pela Educação encomendou ao Datafolha uma pesquisa de opinião com estudantes de escolas públicas do Ensino Médio de todo o Brasil: |
92% concordaram que o aluno deveria poder escolher as áreas em que iria aprofundar os estudos, seguindo suas preferências
1/3 dos jovens de classe C, D e E tinham dificuldades de traçar objetivos para um plano de futuro
89% gostariam de estudar em uma escola que além das disciplinas tradicionais há aulas de projeto de vida para planejar o futuro e orientação de estudos que ensinam técnicas para aprender a estudar
É preciso haver mais nitidez em relação ao futuro do ENEM, uma vez que há alterações significativas em curso no modelo do Novo Ensino Médio. Será necessário entender como se dará o alinhamento das matrizes, a atualização dos ícones, o que será avaliado e de que forma. Esse processo é importante para que o próprio exame se mantenha atualizado.
Sobre o tema, o Todos Pela Educação lançou uma nota técnica destrinchando o panorama das alterações propostas para esse Novo Ensino Médio 2.0.
Confira também: Nota técnica do Todos Pela Educação sobre a PL do Novo Ensino Médio
Povos indígenas nas questões do ENEM 2023
Após protagonizarem a redação da edição de 2022 sob o tema “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, os povos indígenas voltam a serem citados nas questões deste ano.
A fala de Txai Suruí, liderança da Juventude Indígena, na COP-26 alerta sobre as mudanças climáticas e a exploração predatória do meio ambiente. Para falar sobre manifestações artísticas culturais, outra questão trazia a história do grupo Brô MCs, rappers sul-mato-grossenses que misturam português e guarani em suas letras há mais de uma década.
Pensando em preparar e conscientizar os jovens sobre questões como essas, o Programa Itinerários Amazônicos nasceu com o objetivo de criar uma geração de cidadãos comprometidos com o futuro sustentável da Amazônia.
Na unidade curricular, os jovens analisam questões sobre as fronteiras da Amazônia Legal, o fluxo de pessoas e bens na região e os conflitos, as desigualdades e as violências decorrentes desses deslocamentos.