*Por Vinícius de Oliveira, editor do Portal Porvir

No retorno às aulas presenciais após dois anos de restrições impostas pela pandemia, escolas têm se perguntado o que podem fazer para se reconectar aos estudantes. Mais do que nunca, a resposta de educadores e gestores escolares passa pela abertura, não apenas dos portões, mas do que significa a escola e qual o seu papel no desenvolvimento dos estudantes.

Desde o primeiro ano de aulas remotas, as dificuldades de acesso e de comunicação foram gritantes, especialmente no ambiente de escolas públicas. Educadores ficaram “no escuro”, sem saber como suas turmas acompanhavam as aulas e, em tais condições, avaliar a aprendizagem da forma tradicional se tornou uma tarefa inócua.

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Agora, além do impulso para abrir os portões, a escola precisa se esforçar para que a interação com os estudantes seja profunda. E como fazer isso? O cenário tem dois lados: a maior parte das respostas para o atual contexto escolar já era conhecida por gestores e professores, porém precisam encontrar espaços em rotinas já muito disputadas e enfrentar o peso do “sempre foi feito assim”.

Tome como exemplo a questão da saúde mental, que afetou educadores, estudantes e famílias durante o período de isolamento social. Não será apenas a semana previamente preparada e delimitada, com dinâmicas de acolhimento, que trará o impacto duradouro esperado. Sim, olhar e escutar a comunidade escolar é reconhecidamente um processo que traz senso de pertencimento e participação. Mas por quanto tempo a escola está aberta a manter esse processo antes de decisões voltarem a ser tomadas de forma monocrática e padronizada?

O “jeito de sempre” também entra em conflito com o que defendem os novos currículos apoiados no desenvolvimento de competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Como promover o protagonismo estudantil, algo reiterado nos documentos oficiais, usando aulas expositivas como principal estratégia pedagógica? Vamos resumir as ações de protagonismo estudantil a datas comemorativas e micromomentos durante a aula, ou estamos dispostos a inserir essa mentalidade dentro dos processos administrativos e pedagógicos da escola como um todo? (O guia Participação dos Estudantes na Escola, do Porvir, mostra escolas que se beneficiaram ao adotar a segunda abordagem).

O trabalho de longo prazo para superar as dificuldades de aprendizagem durante aulas remotas precisa incluir formações contínuas, que ofereçam ao professor alternativas para enriquecer as atividades e permitir que estudantes construam seus conhecimentos. Pouco a pouco, e não da noite para o dia, o educador conseguirá definir o que é importante para sua aula e entender que muito daquilo que sempre se ensinou em nada contribui para o protagonismo do estudante mencionado acima, ou mesmo para o desenvolvimento de habilidades como defendem os novos currículos.

Como se trata de uma mentalidade diferente daquela que sempre esteve presente, é importante considerar um processo de adaptação, motivação e incentivo. Novamente, a escola está aberta a esse processo que exige flexibilidade?

Inúmeras pesquisas anteriores à pandemia mostravam a importância da aproximação entre família e escola. Durante a logística imposta pelo distanciamento social e pelo ensino remoto, essa necessidade – ou melhor, essa parceria – tornou-se urgente. Quando há um alinhamento entre os contextos nos quais a criança está inserida (casa-escola), cria-se um fator de proteção para o desenvolvimento infantil, explica a especialista Renata Trefiglio Mendes Gomes em artigo publicado no Porvir. Organizar uma rotina de afazeres só é possível com a intervenção de um adulto, e isso diminui os sintomas de ansiedade infantil: quando a criança sabe o que tem de fazer, acaba se auto monitorando.

Para Renata, uma das descobertas mais consistentes sobre os impactos da abordagem baseada na parceria foi o poder de criar continuidade e consistência das ações entre os dois ambientes. Contudo, a união entre docentes e pais ainda não é estruturada e passa longe da maioria dos lares brasileiros: de acordo com pesquisa do Instituto Datafolha, 28% dos responsáveis pelos estudantes em idade escolar reforçam a necessidade de reforço na volta às aulas presenciais. O mesmo levantamento mostrou que mais de 800 mil alunos estavam sem receber qualquer tipo de atividade em dezembro de 2021, mesmo estando matriculados. Entre os estudantes de baixo nível socioeconômico, esse índice chegou a 34%. São dados que refletem a desigualdade existente antes mesmo da crise sanitária.

E um último ponto tem a ver com tecnologia. A maneira emergencial com que todos nos relacionamos com ferramentas digitais ao longo dos últimos dois anos foi marcada por altos e baixos, que incluiu uma importante sensibilização e descoberta de recursos digitais, e uma posterior frustração com a sobrecarga de trabalho. Saber como usar ferramentas não é a mesma coisa de usar a tecnologia de maneira a impactar o aprendizado. Essa é a peça que a educação precisa saber como encaixar. E como todo processo, leva tempo e traz aprendizagens ao longo do caminho.

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