O atual sistema de formação técnica e profissionalizante do estado da Paraíba foi desenvolvido para se adequar ao contexto dos itinerários formativos do Novo Ensino Médio. Seu objetivo é fazer a articulação entre o currículo da rede e uma série de projetos de fortalecimento da educação profissional que preparam os estudantes para o mercado de trabalho.
A proposta foi delineada em 2017, em parceria entre Secretaria Estadual de Educação da Paraíba e Itaú Educação e Trabalho, e o resultado foi a construção do Currículo das Escolas Cidadãs Integrais e Técnicas do Estado (ECIT), com base em novas metodologias para educação profissional, colocado em prática em 2018.
Após três anos do projeto, novas estratégias de implementação foram adotadas, com a construção de ferramentas de monitoramento, gestão e material pedagógico, adequando-se também ao formato do Novo Ensino Médio. Como resultado, a proposta curricular e os projetos empreendedores foram incorporados à rotina das escolas, incentivando os estudantes a relacionar a educação profissional a seu projeto de vida.
Veja também: Dados da implementação do Novo Ensino Médio no estado da Paraíba
A formação técnica e profissionalizante na rede estadual contempla seis modelos, a depender de cada escola. Três deles estão disponíveis em escolas de tempo integral, dois em escolas de tempo regular e um para Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em todos os modelos, destaca-se a articulação com componentes curriculares de projeto de vida, disciplinas eletivas e também a formação básica para o trabalho, inserida na grade de aulas.
Segundo Kaline Serrão, Coordenadora do Núcleo de Projetos Especiais na Gerência Executiva de Educação Profissional da rede estadual, das mais de 460 escolas que ofertam o Ensino Médio, 170 integram o itinerário de formação técnica e o objetivo é expandir a oferta ao longo dos próximos anos. “Temos uma formação voltada para o desenvolvimento integral do aluno, tanto no aspecto social quanto na formação técnica. Nesse âmbito, a educação profissional passa por um estudo local, buscando entender se a escola e a cidade vão comportar a oferta de cursos profissionalizantes e se o mercado vai absorver essa oferta”.
Durante a elaboração da Proposta Curricular para o Novo Ensino Médio, o estado realizou uma pesquisa com 15.023 estudantes, na qual mais de 50% deles indicaram o desejo de fazer uma formação profissional. Quando questionados em relação às expectativas referentes ao Novo Ensino Médio, 76,6% dizem que esperam se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e para o vestibular, e 65,6% indicaram o objetivo de se preparar para o mercado de trabalho.
Segundo Kaline, considerando os dados levantados pelo mapeamento da rede, a articulação curricular é o ponto-chave para o desenvolvimento das práticas educacionais, o que possibilita o fortalecimento da Formação Geral Básica e da Área Técnica, atendendo as opções mais destacadas pelos estudantes. “Nesse sentido, todas as escolas que oferecem o itinerário técnico passaram a contar também com aulas voltadas para intervenção comunitária, inovação social e científica, disciplinas empreendedoras [como Empresa Pedagógica e Educação Tecnológica e Midiática] e aulas de Higiene e Segurança do Trabalho, que contribuem para sua qualificação e ingresso no mercado”, pontua.
Veja também: [VÍDEO] O que pensam os jovens sobre o ensino técnico?
Veja também: Indicadores da qualidade dos egressos do ensino técnico
Oferta profissionalizante nas escolas regulares e EJA
Um dos destaques do período letivo de 2022 para o Ensino Médio foi a expansão dos cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), que representa um dos modelos oferecidos para as escolas regulares. “A oferta já existia nas escolas de tempo integral, que representam mais de 70% da rede estadual. Este ano, conseguimos expandir essa oferta para alunos do ensino regular e também para a EJA”, explica Túlio Antunes, Coordenador do 5º Itinerário na Secretaria Estadual de Educação.
Assim como nas escolas que já ofereciam a formação técnica na Paraíba, os cursos foram selecionados pelo corpo docente e com análise da demanda de cada região, permitindo que os alunos recebam certificações intermediárias relativas a cada Curso FIC realizado. O aluno pode escolher os módulos de uma trilha formativa e, ao final do ciclo, requisitar um certificado de conclusão do curso técnico que irá ajudá-lo na inserção no mercado”, afirma Túlio.
A seleção e formação dos professores para os cursos de FIC foi feita junto ao ParaíbaTEC, também gerenciado pela Secretaria Estadual de Educação. No 3º ano do Ensino Médio, os estudantes são direcionados para o programa Primeira Chance, que os encaminha para estágios junto a empresas selecionadas da região. Segundo o coordenador, hoje são 17 trilhas formativas disponíveis em 15 escolas de tempo regular, e o objetivo da rede para os próximos anos é expandir essa oferta.
A escolha das trilhas foi feita no início deste ano e funciona atualmente para os alunos do 1º ano. Em 2023, a oferta será expandida para o 2º ano e, em 2024, para turmas de 3º ano. Já nas escolas de tempo integral, a oferta atende a todos os alunos e faz parte do ciclo formativo da rede.
Veja também: [Análise] Na direção certa: como implementar os Itinerários Formativos do Ensino Médio
Principais desafios: atrair os jovens e reduzir a evasão
Professora do curso FIC assistente administrativo na Escola Getúlio Guedes, na zona rural de Itambé (cidade que faz divisa com o estado de Pernambuco), Silvia Aquino acredita que o investimento na formação técnica na Paraíba se faz necessário especialmente para ajudar a atrair os jovens para o Ensino Médio e evitar aumento nas taxas de evasão, que em 2020 foi de 2,7% no estado da Paraíba.
“A evasão dos alunos é um desafio para todas as escolas, especialmente no Ensino Médio. Por isso, percebo que nosso trabalho vai muito além de ensinar o conteúdo previsto nas aulas de FIC, mas também conscientizá-los de que essa é uma grande oportunidade para o futuro”, ressalta.
Silvia diz ainda que, em sua região, esse trabalho conta com o desafio de mostrar aos alunos que o mercado de trabalho rural que foi o sustento de muitas famílias nas décadas anteriores vem sendo modificado pela tecnologia e que os alunos precisam se adequar a esse novo cenário. “Alguns acreditam que ainda vão seguir uma vida na roça, como os pais, mas tentamos mostrar, seja com as aulas de FIC ou com atividades de educação tecnológica e midiática, que eles vivem em um tempo diferente, que precisam dessa base para progredir no mercado”.
Na escola, o itinerário de Assistente Administrativo, por exemplo, foi escolhido pelos gestores e docentes após uma análise do setor comercial e agropecuário da região, em que está a maior oferta de empregos atualmente. “É uma região que vive do comércio e tem granjas que demandam a área administrativa, mas não contava com uma escola técnica na cidade. Eles são os primeiros a ter essa oportunidade de formação”, conclui a docente.
Veja também: [MATERIAL DE APOIO] Educação Profissional Técnica em debate