A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está sendo implementada pelas redes e escolas de Educação Básica desde 2018, quando os currículos locais começaram a ser revistos e alinhados ao documento nacional. Indispensáveis para viabilizar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento determinados pela BNCC, as redes partem dos novos currículos para adaptar os conteúdos trabalhados em sala de aula, a formação continuada dos educadores, as avaliações e os materiais didáticos. É o que se define como coerência educacional.
Esta pesquisa teve como objetivo investigar a percepção dos professores sobre essa coerência educacional, promovida pela implementação dos novos currículos em escolas de ensino fundamental (1º ao 9º ano) de redes públicas de todo país.
Para isso, investigou percepções dos professores quanto às formações continuadas que participam, os materiais didáticos que utilizam, as avaliações aplicadas aos estudantes e o que ensinam em sala de aula, e o quanto esses assuntos são coerentes com o currículo da rede em que trabalham.
Os dados da pesquisa, com representatividade nacional, apontam que a maioria dos professores (78,4%) percebe coerência educacional total ou parcial em suas redes; cerca de um quinto (21,6%) aponta baixo alinhamento. Materiais didáticos e formação continuada destacam-se na percepção de baixo alinhamento, especialmente nos anos finais e nas redes estaduais. E mais: os professores das redes municipais percebem maior alinhamento do que das redes estaduais; há espaço em ambos para melhorar essa percepção.
A concepção da pesquisa e as análises dos dados foram realizadas pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes/USP). Os dados foram coletados pelo Instituto Datafolha, entre setembro e outubro de 2021. A iniciativa da pesquisa é do Movimento pela Base e da Fundação Lemann.
Veja oito destaques sobre o que os educadores apontaram sobre o alinhamento do currículo em relação a todos os elementos pedagógicos: conteúdo trabalhado em sala de aula, materiais didáticos, avaliação e formação continuada de professores.
1 – A maioria dos professores percebe alguma coerência educacional, total ou parcial, em sua redes; menos de um quarto aponta baixo alinhamento e a maioria (57,5% ), alinhamento parcial.
2 – A percepção dos professores dos anos iniciais é notadamente melhor do que a dos professores dos anos finais em todos os elementos pedagógicos pesquisados.
3 – Há amplo espaço para melhorar a percepção de alinhamento de todos os elementos pedagógicos (conteúdo, materiais, avaliação e formação) em todas as etapas (anos iniciais e finais do Ensino Fundamental) e tipos de redes (municipal e estadual). Materiais didáticos e formação se destacam nas percepções de baixo alinhamento em ambos os ciclos.
4 – Os professores das redes municipais percebem maior alinhamento do que os das redes estaduais; há espaço em ambas as redes para melhora.
5 – Os professores das redes estaduais, em todos os ciclos, são os que menos percebem alinhamento total, em relação aos professores das redes municipais.
6 – Os professores dos anos finais do Ensino Fundamental das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte têm maior percepção de baixo alinhamento.
7 – Municípios de pequeno e médio porte têm melhor percepção da coerência educacional em relação aos municípios maiores.
8 – Nas capitais e regiões metropolitanas, a percepção da coerência é menor do que no interior
A maioria dos professores (74,5%) vê algum alinhamento (parcial ou total) entre o currículo da rede e o projeto pedagógico da escola, seus planos de aula e práticas de ensino. A percepção de alinhamento parcial é a maior (55,5%).
O baixo alinhamento é mais evidente nos anos finais em todas as regiões.
A maioria dos professores percebe alinhamento total ou parcial das formações em relação aos novos currículos: 40% percebem alinhamento parcial e 30,2% total.
Professores que lecionam para os anos finais do Ensino Fundamental, nas redes estaduais, apontam os maiores índices de baixo alinhamento das formações (38,1%).
A maioria dos professores brasileiros enxerga algum alinhamento (48,5% parcial e 22,5% alto alinhamento) dos materiais didáticos usados em sala de aula em relação ao currículo da rede. No entanto, quase 30% percebe baixo alinhamento:
Quase metade dos professores dos anos finais do Ensino Fundamental da região Norte apontam baixo alinhamento dos materiais que utilizam em relação ao currículo.
No geral, a maioria dos professores percebe que há alinhamento entre as avaliações (organizadas pela escola ou pela rede) e o novo currículo. Esta dimensão é a que apresenta a percepção de maior índice de alto alinhamento.
O alto alinhamento é especialmente percebido pelos professores que lecionam com os anos iniciais do Ensino Fundamental e nas redes municipais. Metade dos professores (50,8%) dos anos iniciais da região Nordeste apontam esse alto alinhamento.
Predisposição do educador em implementar o currículo alinhado à BNCC
A maioria dos professores de ensino fundamental têm predisposição parcial ou total para implementar os novos currículos. Ainda assim, há baixa predisposição, na amostra geral, em quase um terço deles.
A baixa predisposição cresce em pontos percentuais entre os professores que lecionam nas redes estaduais.
O novo currículo e o impacto da pandemia no trabalho do professor
Menos de 2% dos educadores disse que a pandemia não impactou o seu trabalho. Veja o que responderam sobre os impactos negativos e positivos da pandemia no seu trabalho com o novo currículo em sala de aula:
Sobre a pesquisa
*Um mesmo educador pode lecionar em mais de uma rede ou segmento
Em agosto e setembro de 2021, foram entrevistados 1.231 professores do Ensino Fundamental que lecionam pelo menos desde 2019. A margem de erro é de 4,1 p.p. para amostra de anos iniciais do Ensino Fundamental e 3,7 p.p. para amostra de anos finais. As questões procuraram captar sua percepção sobre a coerência na implementação do currículo de suas redes em 2020 e 2021. Eles puderam expressar se concordam ou discordam, totalmente ou em partes, com afirmações que estruturam seu trabalho em sala de aula, escolas e redes em que atuam, em relação aos seguintes assuntos: conteúdo das aulas, material didático, formação continuada, avaliação, participação na construção do currículo e conhecimento específico dos professores sobre os conteúdos previstos na BNCC.
A pesquisa mostra resultados específicos para aqueles que lecionam nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, nas redes estaduais ou municipais, em capitais e demais localidades, conforme as macrorregiões e porte dos municípios.
Os pesquisadores do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes/USP), que conceberam a pesquisa e analisaram os dados, são:
Coordenação da Pesquisa: Roberta L. Biondi Nastari, Maria Isabel Theodoro e Luiz Guilherme Scorzafave;
Pesquisadores: Ana Carolina G. Sales, Laís Bovolin Reis e Júlia Batista.