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Coerência educacional: percepção dos professores de Educação Infantil sobre o alinhamento de práticas, formações, materiais e avaliações aos currículos

Redes de EI e EF Análises e contextos

Em dezembro de 2017, o texto da Educação Infantil da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homologado. Desde então, os currículos de cada território começaram a ser revistos e alinhados ao documento nacional para implementação pelas redes e escolas.

As redes partem dos novos currículos para adaptar a formação continuada dos educadores, as avaliações e os materiais didáticos. É o que se define como coerência educacional.

Esta pesquisa teve como objetivo investigar a percepção dos professores sobre essa coerência educacional, promovida pela implementação dos novos currículos em unidades escolares de educação infantil (que atendem crianças de 1 ano e sete meses até 5 anos e onze meses) em redes públicas de todo país.

A pesquisa investigou percepções dos professores quanto às formações continuadas que participam, os recursos pedagógicos que utilizam, o acompanhamento das aprendizagens (ou avaliação) das crianças e se os profissionais utilizam o currículo para seu planejamento e prática com as crianças (chamado aqui de “currículo em ação”), verificando o quanto esses assuntos são coerentes com o currículo da rede em que trabalham.

Também foram analisadas a percepção dos educadores em outros aspectos: o capital social da unidade escolar, o envolvimento dos professores na construção e discussão do currículo, o senso de comunidade e o impacto da pandemia na implementação do novo currículo.

Os resultados da pesquisa, com representatividade nacional, apontam que a maioria dos professores (74%) percebe coerência educacional total ou parcial em suas redes; um quarto (25%) não reconhece alinhamento entre recursos pedagógicos, acompanhamento das aprendizagens/avaliação, formação continuada e currículo.

A percepção é relativamente mais alta na dimensão capital social da unidade escolar. É mais baixa nas dimensões de recursos didáticos e currículo em ação (utilização do currículo para o planejamento e prática com as crianças) em relação aos demais elementos pedagógicos. Um terço dos entrevistados vê baixo alinhamento dos currículos a suas práticas pedagógicas.

A pesquisa também foi realizada com professores que lecionam para o Ensino Fundamental e os resultados podem ser vistos neste link.

A concepção da pesquisa e as análises dos resultados foram realizadas pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes/USP). Os dados foram coletados pelo Instituto Datafolha em outubro e novembro de 2021. A iniciativa da pesquisa é do Movimento pela Base e da Fundação Lemann.

Percepção geral da coerência

Veja cinco destaques sobre o que os educadores apontaram sobre o alinhamento do currículo em relação a todos os elementos pedagógicos: utilização do currículo para o planejamento e prática com as crianças, recursos pedagógicos, acompanhamento das aprendizagens e formação continuada de professores.

1 – A maioria dos professores têm percepção de coerência parcial do alinhamento entre recursos pedagógicos, acompanhamento das aprendizagens e formação continuada em relação aos currículos. ¼ dos professores não reconhece coerência.

2 – Mais professores percebem baixo alinhamento no Centro-Oeste e a percepção de alinhamento mais alta é no Sudeste.

3 – A percepção da coerência é maior para os professores que atuam em municípios de grande porte (30%) e de capitais (22%).

4 – A porcentagem de percepção é mais alta na dimensão capital social da unidade escolar. Mais professores percebem baixo alinhamento nas dimensões de recursos pedagógicos e currículo em ação em relação às demais.

Alinhamento entre currículo e o que é ensinado

Os itens da dimensão “currículo em ação” analisam a utilização do currículo da educação infantil para o planejamento e prática com as crianças na unidade escolar. A maioria dos professores percebe alinhamento parcial de suas práticas pedagógicas aos currículos; quase ⅓ vê baixo alinhamento.

Mais professores percebem baixo alinhamento no Centro-Oeste e no Norte, e mais professores percebem alto alinhamento Sudeste, Nordeste e Sul.

Alinhamento entre currículo e formação continuada dos professores

Este item capta a percepção dos educadores em relação às formações oferecidas pela secretaria ou pelas escolas, verificando se estão alinhadas com a BNCC, com o currículo e com as necessidades dos professores e das crianças, articulando o saber do professor com a reflexão sobre sua prática.

Embora a percepção parcial de alinhamento predomine, há cerca de ⅓ dos entrevistados que percebem baixo alinhamento e outro terço que percebe alto alinhamento.

Mais professores percebem baixo alinhamento no Centro-Oeste, e mais professores percebem alto alinhamento no Sul.

Alinhamento entre currículo e recursos pedagógicos

Esta dimensão refere-se à usabilidade dos recursos pelo professor e ao apoio da secretaria a eles no uso destes materiais.

Embora a percepção parcial de alinhamento predomine, o baixo alinhamento é bastante expressivo no país.

Mais professores percebem baixo alinhamento no Centro-Oeste e no Nordeste, e mais professores percebem alto alinhamento no Sul e Nordeste.

Alinhamento entre currículo e avaliação de aprendizagem dos estudantes

Esta dimensão permite verificar a percepção sobre a existência de acompanhamento das aprendizagens, se ela é documentada e compartilhada entre educadores e pais.

A percepção de alto alinhamento predomina dentre os respondentes, mas o alinhamento parcial é bastante expressivo no país.

A porcentagem de percepção alta é comum entre os professores de todas as regiões. E o baixo alinhamento é visto principalmente no Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Alinhamento entre currículo e capital social

O item capital social leva em consideração a importância da cultura colaborativa entre os professores, coordenadores e gestores da unidade escolar. Os itens captam o suporte da gestão da unidade escolar aos professores para o trabalho dos objetivos do currículo com as crianças.

A percepção de alinhamento é alta na maior parte do país.

A percepção é alta na dimensão capital social da unidade escolar, em especial na região sudeste.

Envolvimento dos professores na construção e discussão do currículor

Estes itens da pesquisa captam o envolvimento dos professores na construção e discussão do currículo, contribuindo para a sua implementação.

A percepção de alinhamento alto predomina entre os professores.

A percepção é alta no país, em especial por professores da região sul e do nordeste.

Senso de comunidade escolar

A pesquisa também procurou captar a participação e o alinhamento dos princípios da educação infantil entre os atores da comunidade escolar (famílias e escola).

A percepção de alinhamento parcial predomina entre os professores, e ⅓ indica alto alinhamento.

A percepção de alinhamento que predomina é a parcial, mas é maior principalmente com os professores do Norte.

O novo currículo e o impacto da pandemia no trabalho do professor

Menos de 2% dos educadores disse que a pandemia não impactou o seu trabalho. Veja mais:

Sobre a pesquisa

Quem participou da pesquisa

Em outubro de 2021, foram entrevistados 254 professores da Educação Infantil que lecionam pelo menos desde 2019. A margem de erro é de 6,4 p.p. para a amostra.

14,2% estão em capitais, 16,5% em regiões metropolitanas e 69,3% vivem no interior

Na dimensão do porte de município, 39% atuam em municípios de pequeno porte (até 50 mil habitantes), 41,3% atuam em municípios de médio porte (até 499 mil habitantes) e 19,7% atuam em municípios de grande porte (mais de 500 mil habitantes).

Como a pesquisa foi realizada

As questões procuraram captar a percepção dos professores sobre a coerência na implementação do currículo de suas redes em 2020 e 2021.

Os respondentes puderam expressar se concordam ou discordam, totalmente ou em partes, com afirmações que estruturam seu trabalho em sala de aula, escolas e redes em que atuam, em relação aos seguintes assuntos: “currículo em ação”, recursos pedagógicos, formação continuada, acompanhamento das aprendizagens (avaliação), capital social da unidade escolar, envolvimento dos professores com o currículo e senso de comunidade. A pesquisa mostra resultados específicos conforme as macrorregiões, porte dos municípios e natureza dos municípios.

Os pesquisadores do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes/USP), que conceberam a pesquisa e analisaram os resultados, são:

Coordenação da Pesquisa: Roberta L. Biondi Nastari e Maria Isabel Theodoro; 
Pesquisadores: Ana Carolina G. Sales, Ana Cláudia Cipriano, Camila Martins, Carolina Kato, Laís Bovolin Reis e Priscila Castilho.