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Pesquisa mostra intervenções curriculares em 15 localidades do mundo durante a pandemia

Redes de EI e EF Análises e contextos

Um levantamento realizado pelo Vozes da Educação a pedido do Movimento pela Base aponta que desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 começou, diferentes territórios em todo o mundo começaram a se organizar para fazer intervenções curriculares que auxiliassem os educadores a definir as habilidades e competências a serem priorizadas para os estudantes durante a crise.

O estudo buscou identificar em detalhes os tipos de interferências realizadas em 15 territórios, incluindo estratégias nacionais, municipais e estaduais. Foram analisadas as intervenções curriculares propostas por África do Sul, Argentina, Brasil (município de Sobral e estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul), Butão, Canadá (províncias de Ontário, Quebec e New Brunswick), Chile, Equador, Estados Unidos (estado de Massachusetts), Índia, Portugal e Reino Unido (Inglaterra).

A pesquisa partiu de uma análise inicial realizada por Unesco, Unicef, Banco Mundial e OCDE com 143 nacionalidades, que apontava que 70% dos países de baixa e média renda fizeram intervenção curricular durante a pandemia e que apenas 1 a cada 5 países de alta renda seguiram o mesmo caminho.

Segundo a coordenadora do estudo, Carolina Campos, a análise mostrou que a necessidade de realizar uma intervenção curricular estava atrelada ao fato de as escolas terem ficado muito tempo fechadas, prejudicando o fluxo de aprendizagem, sendo o Brasil uma das localidades que permaneceu o maior tempo nessa situação.

Conheça os principais resultados

Os tipos de intervenção curricular identificados

O primeiro ponto analisado nas 15 localidades selecionadas mostra que houve três tipos principais de intervenção, sendo a primeira a priorização curricular, a segunda a priorização com incorporação curricular, e a terceira a reforma curricular.

Priorização curricular
  • Adaptação para atender as necessidades prioritárias de aprendizagem dos estudantes em determinado contexto.
  • Consiste em identificar e hierarquizar os conteúdos, competências e/ou habilidades do currículo vigente que se relacionem com as necessidades prioritárias.

Priorização com incorporação curricular
  • Adaptação que realiza a priorização do currículo vigente e incorpora conteúdos, competências e/ou habilidades de anos anteriores, necessários para responder às demandas ou interesses dos estudantes.

Reforma curricular
  • Caso o currículo vigente não satisfaça demandas ou interesses dos alunos, ele deve ser alterado em sua totalidade.
  • Após uma pandemia, por exemplo, com efeitos visíveis a longo prazo, podem ser implementadas ações de mudança curricular.

Dentre os 15 territórios, todos fizeram algum tipo de intervenção curricular com tempo de utilização pré-definido, com as seguintes diferenças:

Principais componentes priorizados nas intervenções curriculares

Dentre os 15 territórios analisados, 12 realizaram priorização do currículo para todas as disciplinas; 3 focaram em Linguagens e Matemática e habilidades socioemocionais; e 3 recomendaram que fossem seguidas as habilidades prioritárias em todos os componentes, mas sempre que possível, trabalhando a leitura, escrita e a Matemática de forma transversal, ou com foco especial por meio de aumento de carga horária e reajuste na matriz curricular.

Critérios utilizados pelos territórios na seleção de conteúdos

O levantamento identificou ainda que as localidades selecionadas usaram três critérios principais para a seleção dos conteúdos a serem priorizados, sendo eles:

Pertinência: a partir da identificação de habilidades essenciais do currículo vigente, o conteúdo selecionado deveria atender às necessidades educacionais do contexto.

Essencialidade: a partir da análise curricular, o conteúdo selecionado foi definido como imprescindível para dar continuidade à aprendizagem em áreas ou anos/séries específicos.

Sequencialidade: a partir de uma definição de objetivos que respondem a uma progressão da aprendizagem, o conteúdo selecionado deveria se desenvolver progressivamente dentro do mesmo ano/série/ciclo, servir de base para aprendizagens posteriores e articular-se com conteúdos essenciais da mesma área ou de outras áreas.

Impactos da intervenção curricular em outros eixos

O estudo mostra que a intervenção curricular em todas as localidades afetou também outros eixos da educação, como a formação de professores, a escolha de material didático e de recursos pedagógicos, e as estratégias de comunicação. Nesse sentido:

  • 8 territórios ofereceram formação para preparar os professores para a implantação do currículo priorizado, sendo a maioria de forma online.
  • 4 territórios disponibilizaram material didático atualizado conforme o currículo priorizado para as redes de ensino.
  • 11 territórios ofereceram recursos pedagógicos como guias, planos, conteúdos digitais, vídeos, textos e exercícios para orientar os docentes sobre os objetivos e temas que foram priorizados.
  • 8 territórios adotaram estratégias de comunicação sobre as intervenções curriculares, como circulares, normativas, lives e orientações in loco.

Principais conclusões do levantamento

Segundo a coordenadora do estudo, um dos pontos que chamaram a atenção é o fato de que, dos 15 territórios selecionados, apenas 5 apresentaram uma proposta de intervenção curricular ainda no primeiro semestre de 2020.
Ela destaca que a diferença encontrada no tempo de resposta dos territórios para a construção das intervenções curriculares aponta a necessidade de se criar orientações prévias sobre como trabalhar os padrões curriculares em situações de emergência que interrompam as atividades escolares (desastres naturais, surtos de doenças, guerras, etc.).
Outro aspecto apontado é a necessidade de considerar as habilidades socioemocionais nas intervenções curriculares, atitude tomada por 12 das 15 localidades analisadas. Nesses casos, o aspecto socioemocional foi abordado tanto de forma transversal quanto em componentes curriculares específicos.