A escola nem sempre colabora com os jovens para pensarem e planejarem seu futuro, contam Jhennyffer e Maria Vitória, alunas de Ensino Médio que ocupam o alto desta página. Mas a experiência dessas garotas tem sido diferente. Elas estudam em escolas de tempo integral que dedicam cerca de 2 horas por semana ao Projeto de Vida, momento em que discutem os sonhos dos estudantes e as etapas para alcançá-los.

“O processo de reflexão sobre o que cada jovem quer ser no futuro, e de planejamento de ações para construir esse futuro, pode representar mais uma possibilidade de desenvolvimento pessoal e social”. Esse trecho é da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que também diz que a escola contribui para o delineamento do projeto de vida dos estudantes. Embora a atenção para o futuro seja maior com as turmas dos adolescentes e jovens, deve ser cultivada desde cedo e aprimorada ao longo da vida. O termo Projeto de Vida também compõe a sexta Competência Geral da Educação Básica, conforme explicado neste vídeo e citado na BNCC: “Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.”

Aos poucos, o Projeto de Vida está sendo incorporado nas redes de todo o país. Em São Paulo, as escolas estaduais têm carga horária dedicada ao Projeto de Vida no Ensino Médio, conforme reportagem do Jornal Hoje, da Rede Globo, transmitida neste link. O Instituto Natura e parceiros apoiam o trabalho nas escolas em 20 estados, inclusive em Alagoas e Goiás, onde moram Jhennyffer e Maria Vitória.

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“A elaboração de um Projeto de Vida pressupõe elementos muito importantes, como a definição de uma visão de futuro; sonhos; compromisso e engajamento e sentido”, escreveu Thereza Paes Barreto, Diretora Pedagógica do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), neste texto. As estudantes Jhennyffer e Maria Vitória têm clareza disso e contaram à equipe do Observatório suas experiências com o Projeto de Vida. Nos depoimentos a seguir, veja os sonhos das garotas, a alegria com a volta às aulas presenciais e comprometimento delas com a educação:

 

“É muito positivo que a escola esteja atenta à opinião do aluno. Acho que todas deveriam ter Projeto de Vida”, diz Jhennyffer

“Meu nome é Jhennyffer Kayllanny Bispo da Silva, tenho 15 anos, estou cursando o 1º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Joaquim Diégues, no município de Viçosa, em Alagoas. Por causa da pandemia, estava com pouco acesso à escola, apenas com aulas online. Ainda não conheço grande parte de meus professores e colegas pessoalmente, e é a primeira vez que estudo em período integral. Até agora os encontros estavam sendo a distância, mas logo devemos voltar às aulas presenciais, o que vai ser muito bom! Também é novo para mim discutirmos sobre Projeto de Vida.

Pelo o que percebo, um Projeto de Vida bem desenhado pela escola é de interesse de todos, porque ajuda os alunos a propor perguntas para si próprios e pensar em respostas possíveis, fazer escolhas difíceis e avaliar de forma constante o percurso. Para mim, isso dá sentido ao que aprendo e me dá prazer em estar na escola. Nas rodas de conversa feitas atualmente, falamos sobre a importância do autoconhecimento para que a gente se desenvolva melhor, se permita olhar de perto.

Agora na pandemia foi preciso uma grande determinação porque as dificuldades são muitas, mas foi também uma oportunidade para cada um conseguir fazer de fato o que era preciso.

Falo muito com minhas amigas sobre o que queremos do futuro, inclusive sobre meus desejos de fazer duas faculdades, de Direito e Medicina. Mas mesmo achando a profissão de médico muito bonita, agora já decidi que meu sonho é fazer Direito e me tornar juíza.

O ensino sobre Projeto de Vida pode ser feito em qualquer etapa da vida porque colabora muito com o desenvolvimento pessoal. Mas, o quanto antes, melhor. Isso porque todos querem melhorar, mas nem sempre têm um objetivo. Acredito que cada aluno tem que saber seu direcionamento para então desenvolver a capacidade de se conhecer, se avaliar e se transformar. É muito positivo que a escola esteja atenta à opinião do aluno. Acho que todas deveriam ter Projeto de Vida.

Vou começar a fazer um curso de computação gráfica e língua inglesa, e acredito que isso vai ampliar as minhas possibilidades. Já tenho muitas responsabilidades na escola e isso é bom, porque mostra que eu posso fazer sempre melhor tendo determinação. Eu sei que posso conseguir e falo sempre para outras pessoas: ‘Você é capaz! Se você não acreditar em você, quem é que vai?’.”

 

“A escola de tempo integral e o Projeto de Vida mudaram o meu jeito de ser”, diz Maria Vitória

“Meu nome é Maria Vitória Pereira Barbosa, tenho 16 anos e estou cursando o 2º ano do Ensino Médio no CEPI Joaquim Maria de Godoi em Niquelândia, Goiás.

Para mim, o melhor benefício do Projeto de Vida é o autoconhecimento, porque quando sabemos melhor o que somos, queremos e podemos, isso melhora o relacionamento com família, amigos, além do desempenho na escola e na vida em geral. Para o aluno do Ensino Médio, que está se encaminhando para uma Universidade e para o trabalho, isso é muito importante.

Este é o segundo ano que tenho o Projeto de Vida na minha escola. Em 2020, o foco foi o acolhimento para a rotina do Ensino Médio integral. Agora em 2021, temos falado sobre questões pessoais e familiares, foco e futuro. Como estamos mais tempo em casa por causa da pandemia, discutimos muito sobre como nos sentimos nesse momento tão difícil e como está o relacionamento com as pessoas que moram conosco.

A professora de Projeto de Vida também conversou com a gente sobre passado e futuro. Pediu para escrevermos quais eram os nossos planos há cinco anos e o que queremos para os próximos cinco anos. Antes eu não imaginava que estaria tão focada nos estudos e seria tão apegada nos meus professores e na escola! O Projeto de Vida e a escola de tempo integral mudaram o meu jeito de ser, porque passei a ter muito mais conhecimento e agora me sinto mais protagonista. Agora penso sobre o futuro e entendo que tenho que dar um passo de cada vez para conquistar o que quero. Com isso, meus sonhos ficam mais reais.

Minha escola já voltou com as aulas presenciais, o que é muito melhor para aprender e conviver com os colegas. Nas aulas de Projeto de Vida, as carteiras ficam organizadas em formato de círculo e todos se olham de frente. Eu percebo que se a professora quer ‘tocar nosso coração’, muitas vezes coloca músicas que emocionam, passa filmes ou documentários, e então propõe de falarmos sobre um determinado assunto, como namoro, escola ou família. Todos os 32 alunos têm espaço para comentar e expressar seus sentimentos. Nem todos têm uma participação igual, mas a intenção é que possamos trocar experiências e histórias sempre.

Um dia, a professora pediu que a gente escrevesse nossos problemas e colocasse os papeis em uma caixa, sem assinar. Depois, cada um deveria pegar outro papel e tentar resolver aquela questão formulada pelo colega. Foi muito legal, porque a gente pode ouvir outras visões e ver o que outras pessoas estão passando.

Além das aulas de Projeto de Vida, na minha escola há tutores que acompanham cada um para o alcance dos sonhos. Eu encontro a minha tutora a cada 15 dias e ela me ajuda a lidar com nas minhas necessidades, no passo a passo que devo percorrer pra chegar aos meus objetivos. Chegamos a pensar, por exemplo, na minha meta para a semana seguinte, para 30 dias, para cinco meses e um ano.

Para os próximos anos, eu quero fazer faculdade de Direito na universidade pública, prestar concurso para trabalhar na Polícia Federal e ter independência financeira. Quero me esforçar agora para ficar mais tranquila no futuro. Eu acredito que um aluno que estuda bastante tem que ter seu tempo de lazer e de descanso também, e eu procuro levar isso em conta na minha rotina. Para mim, é muito fácil perder o foco, então ainda quero fazer um cronograma de estudos para seguir.”