Pisar no chão da escola é sempre uma emoção.
Por isso, na primeira grande celebração dos 10 anos do Movimento pela Base, nosso time foi para Vitória (ES), com um grupo especial de convidados conhecer escolas em que a BNCC e o Novo Ensino Médio já fazem parte do dia a dia de estudantes e educadores.
Se pisar no chão da escola é sempre emocionante, fica ainda mais quando temos a oportunidade de conhecer uma escola viva, em que cada cantinho tem uma razão de ser.
Uma escola em que os projetos integram diferentes áreas do conhecimento e onde os estudantes são protagonistas.
Se alguém me pedisse um resumo da visita à escola de tempo integral Professora Maria Penedo, que recebe estudantes de Ensino Fundamental e Médio no município de Cariacica (ES), essa seria a minha resposta.
À primeira vista, a estrutura da instituição – paredes coloridas, ginásio, teatro, horta, salas e laboratórios – chama a atenção. Um pátio amplo, iluminado, conecta os espaços, seguindo o modelo das escolas americanas, como uma artéria gigante que abriga o fluxo de estudantes e professores. Um território de pulsar constante.
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Na chegada, fomos recebidos com trabalhos artísticos, telas pintadas pelos próprios estudantes e presenteadas a cada convidado da nossa pequena comitiva. No corredor, a caminho da sala onde seríamos recebidos e apresentados ao corpo pedagógico da escola, uma exposição sobre diversidade, com fotos tiradas pelos alunos e expostas em grandes pendentes que giravam com a brisa. Rostos, corpos, idades, cores ilustravam quantas formas possíveis há de ser e existir – tão bom ver gente jovem que já vai sair da escola com esse olhar para o diverso.
Em pouco mais de duas horas, conhecemos os principais espaços e projetos desenvolvidos pelos jovens e pelos professores.
Durante toda a visita, ficou evidente que o protagonismo na aprendizagem era dos estudantes – eles tomavam a palavra, apresentavam os espaços e introduziam os professores. Detalhes tão preciosos e reveladores das dinâmicas da instituição.
Passamos pela horta, onde professores de Filosofia, Geografia e Língua Inglesa desenvolvem um projeto integrado, que reflete sobre o uso da terra, a natureza, a importância de uma alimentação orgânica e técnicas para realizar um cultivo doméstico.
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Na quadra, observamos uma dinâmica de futebol para cegos, parte da programação do Setembro Verde, que celebra a inclusão e a diversidade.
No laboratório de informática, conhecemos uma plataforma de games desenvolvidos pelos próprios estudantes. Os jogos são elaborados a partir de conhecimentos e habilidades previstos na disciplina de Língua Portuguesa, abordando também questões relacionadas à cultura africana e afrobrasileira. Um trabalho que vai muito além da programação: os alunos elaboram a narrativa dos jogos e conceito dos personagens, desenvolvem a parte visual e dão conta dos preceitos tecnológicos envolvidos.
Poderia escrever ainda sobre a apresentação da formação profissional de administração, um dos itinerários formativos possíveis na grade do Ensino Médio. Sobre a explosão de cores e referências na sala de artes – onde os trabalhos revelavam as discussões sobre cores e formas de tantos movimentos diferentes.
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Poderia escrever sobre o 4º ano do Ensino Médio, que foca na recomposição de aprendizagens perdidas durante a pandemia e nos exames que dão acesso ao ensino superior para estudantes que, em teoria, já terminaram a escola. Mas que vai além, oferecendo, inclusive, uma ajuda de custo que possibilita a dedicação aos estudos por mais um ano em vez da entrada no mercado de trabalho para ajudar em casa.
Poderia falar também sobre os experimentos aparentemente tão simples do laboratório de Ciências, que instigavam a discussão e a reflexão sobre processos químicos, físicos e biológicos, e que poderiam ser reproduzidos mesmo fora de uma estrutura tão bacana quanto o espaço que visitamos.
Mas prefiro ficar com a imagem da árvore do projeto de vida, instalada na biblioteca, em que cada folha registrava os sonhos de cada uma das crianças e jovens acolhidos ali. “Fazer mestrado”. “Passar com uma boa nota no Enem”. “Fazer direito”. “Ser médica e ajudar a minha família”. Quando a educação oferece perspectivas reais, há lugar para cultivar sonhos que transcendem a própria realidade. Caminhos antes impossíveis se tornam tangíveis – e mais próximos.
É para isso que trabalhamos.
Naíma Saleh
Jornalista, ilustradora e Analista de Comunicação do Movimento pela Base
Teve seus professores como principais referências e se emociona só de pisar no chão da escola.