A implementação do Novo Ensino Médio no estado do Paraná tem impulsionado a modernização e a adaptação da educação às demandas atuais das juventudes. Proposto pela Lei nº 13.415/2017, o novo modelo educacional visa promover uma formação integral e flexível, com foco no protagonismo do estudante e na conexão entre teoria e prática, deixando de lado um passado de educação pautada apenas no conteúdo. No Paraná, ele começou a ser estruturado em 2019, com a criação de grupos de trabalho para organizar as questões pedagógicas, normativas e estruturais referentes à mudança.

Em 2021, o Referencial Curricular foi homologado, estabelecendo a oferta de componentes curriculares da Formação Geral Básica e uma Parte Flexível composta por Unidades Curriculares. Foram contempladas as diferentes modalidades educacionais presentes no Estado: escolas regulares, indígenas, quilombolas, das ilhas, do campo, assentamento e acampamento, cívico-militares, profissionais e integrais. “Para que isso acontecesse, houve um amplo diálogo tanto em nível estadual, com os municípios e Universidades, quanto em nível nacional, envolvendo a Undime e o Consed”, relembra Abimael Fernando Moreira, coordenador do Novo Ensino Médio na Secretaria da Educação do Paraná (Seed-PR).

Após a elaboração do Referencial, 14 escolas piloto foram selecionadas para ampliar a carga horária e implementar uma matriz curricular flexível. “Nessa fase, um documento de apoio pedagógico adicional chamado Diretrizes Curriculares Complementares para o Ensino Médio foi desenvolvido para auxiliar na transição e conectar os documentos anteriores à BNCC. Um comitê gestor também foi responsável por acompanhar o processo de implementação e estruturação das escolas”. 

Em 2022, o Currículo para o Ensino Médio do Paraná – para a  Formação Geral Básica foi finalizado e homologado, dando início à expansão do modelo para todas as escolas da rede, que também passaram pelo aumento na carga horária. Entenda:

Um retrato do Ensino Médio no Paraná

  • 1.640 escolas que ofertaram o Ensino Médio 
  • Cerca de 415.000 estudantes matriculados nessa etapa
  • 2 Itinerários Formativos integrados organizados em trilhas de aprendizagem, além do Itinerário Profissional
  • 2022: implementação da Formação Geral Básica e Parte Flexível Obrigatória para todas as escolas da rede
  • 2023: Implementação dos Itinerários Formativos
  • 2024: fim da etapa de implementação 

Organização curricular

No Paraná, o currículo foi estruturado em duas partes e implementado de forma gradativa. Em 2022, as escolas iniciaram a oferta da Formação Geral Básica, organizada de acordo com a BNCC, e de uma Parte Flexível Obrigatória. Ao final da implementação, explica Abimael, todas as escolas da rede terão a carga horária ampliada para 3.000 horas, conforme determina a reforma do Novo Ensino Médio. Em 2023, a rede ofertou 8 Trilhas de Aprendizagem na 2ª série e, com a inclusão da 3ª série em 2024, haverá a expansão dos Itinerários para 13 trilhas, finalizando a transição para o novo modelo.

Itinerários Formativos para o Novo Ensino Médio no Paraná

Abimael explica que a Parte Flexível Obrigatória consiste em três unidades curriculares: Pensamento Computacional, Projeto de Vida e Educação Financeira. “Essas unidades visam preparar os estudantes para as demandas do século XXI, fornecendo conhecimentos em educação financeira para um planejamento eficaz, introduzindo o pensamento computacional no mundo digital e permitindo que os alunos projetem e construam seu caminho para o futuro”.

No que diz respeito aos Itinerários Formativos para o Novo Ensino Médio, um dos principais objetivos do Paraná foi garantir a diversificação curricular, permitindo que os estudantes escolham a área de conhecimento na qual desejam se aprofundar. Para isso, foram criadas oito trilhas de aprendizagem divididas em dois Itinerários Integrados, como exemplificado  abaixo: 

Formação Geral Básica

  • Linguagens e suas Tecnologias
  • Matemática e suas Tecnologias
  • Ciências da Natureza e suas Tecnologias 
  • Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Parte Flexível Obrigatória

  • Pensamento computacional
  • Projeto de vida
  • Educação financeira

Itinerário de Linguagens e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

  • Trilha de Aprendizagem de Liderança e Ética
  • Trilha de Aprendizagem de Práticas Esportivas
  • Trilha de Aprendizagem de Mídias Digitais e Processos Criativos
  • Trilha de Aprendizagem de Oratória

Itinerário de Matemática e Ciências da Natureza

  • Trilha de Aprendizagem de Empreendedorismo
  • Trilha de Aprendizagem de Robótica
  • Trilha de Aprendizagem de Biotecnologia
  • Trilha de Aprendizagem de Programação

Veja também: Depoimento em áudio sobre o Ensino Médio no Paraná:

 

“Os estudantes podem escolher o Itinerário Formativo com suas aptidões pessoais, cidadãs e profissionais. Se optarem pelo caminho da Matemática e Ciências da Natureza, cursarão as trilhas de Biotecnologia, Robótica e outras Unidades Curriculares voltadas para as áreas exatas. Já aqueles que escolherem o caminho de Linguagens e Ciências Humanas seguirão trilhas como Liderança, Mídias Digitais e Comunicação, dentre outras”, destaca.

É importante ressaltar que, segundo Abimael, a implementação do Novo Ensino Médio no Paraná ainda está em andamento e tem encontrado desafios ao longo do processo. No entanto, os avanços são significativos e demonstram o comprometimento do Estado em proporcionar uma educação mais adequada às necessidades dos estudantes, representando uma mudança profunda na maneira como o ensino é estruturado e oferecido. 

“A diversificação curricular, a integração entre teoria e prática e a valorização do protagonismo estudantil são elementos-chave desse novo modelo, que busca formar cidadãos críticos, reflexivos e preparados para a vida pessoal e profissional. Garantimos, ao mesmo tempo, uma compreensão maior das demandas do mundo do trabalho e uma formação geral básica e aprofundada para que os alunos possam prosseguir na vida acadêmica, como fazer vestibular, ou participar de outros processos seletivos, como o Enem”, afirma o coordenador.

A escolha dos Itinerários também se dá de forma gradual: no primeiro ano da reforma, em 2022, as turmas da 1ª série do Ensino Médio vivenciaram a ampliação da carga horária com a Formação Geral Básica e a Parte Flexível Obrigatória. No ano seguinte, passaram a ter a escolha do Itinerário Formativo e suas Trilhas de Aprendizagem e, no terceiro ano, previsto para iniciar em 2024, os estudantes terão ainda mais tempo da carga horária dedicada aos itinerários. “Essa mudança é progressiva porque quanto mais certeza o aluno tiver de sua escolha, maior será a carga horária de Itinerário Formativo em que ele estará envolvido”.

Formação docente

A reforma na etapa do Ensino Médio também trouxe desafios e oportunidades para os professores, que tiveram que passar por um intenso processo de formação continuada. Para preparar os educadores para as novas práticas pedagógicas e metodologias propostas pelo modelo, a rede paranaense trabalhou com cursos de capacitação e atualização profissional. “Essa mudança foi significativa, uma vez que os professores precisaram se adaptar a uma abordagem na qual o conteúdo deixou de ser o produto final do ensino. Agora, o foco está na consolidação de habilidades e competências dos estudantes, com a definição de objetivos de aprendizagem que englobam saberes a serem construídos de forma gradativa e cumulativa ao longo do percurso escolar”, explica o coordenador.

Para ele, a principal dificuldade enfrentada pelos professores nessa transformação pedagógica é a mudança de paradigma, na qual eles saíram de um trabalho focado exclusivamente no conteúdo para uma abordagem direcionada aos objetivos de aprendizagem e que deve considerar as dez competências gerais estabelecidas pela BNCC, visando o desenvolvimento integral dos estudantes.

As formações oferecidas aos professores são diversas e ocorrem ao longo do ano. Estima-se que, somente em 2023, ocorrerão cerca de 200 formações, abrangendo diferentes modelos e abordagens. Uma delas acontece dentro do programa “Formadores em Ação”, no qual os próprios professores da rede se tornam formadores, auxiliando seus colegas de profissão. “Essa iniciativa proporciona uma dinâmica interessante de troca de conhecimento, pois tem como objetivo levar elementos para que as escolas possam refletir sobre sua realidade e, a partir disso, o diretor possa conduzir reuniões técnicas e identificar as dificuldades de sua escola”, aponta Abimael.

Para Cristiana Ducci Gohr, diretora do Colégio Estadual Alfredo Parodi, em Curitiba, esse tipo de tutoria desempenha um papel fundamental no acompanhamento dos professores e direcionamento das ações da rede, oferecendo orientações pedagógicas e espaço para discussões individuais. “A troca de experiências é incentivada em encontros coletivos, enquanto momentos mais individualizados são reservados para orientações e dúvidas específicas do segmento”, conta.

Com três anos de experiência como diretora e anteriormente professora de Inglês, ela tem liderado a implementação junto à comunidade escolar, visando integrar os diferentes componentes e a carga horária de forma participativa. Atualmente, no segundo ano de implementação, a escola oferece os Itinerários disponíveis, além de atender ao ensino profissional com o curso técnico em administração. 

A escola também passou por adaptações físicas para melhorar as condições de ensino, incluindo reformas e a ampliação dos equipamentos de informática. Segundo Cristiana, a implementação do Novo Ensino Médio tem sido gradual, assim como os desafios enfrentados. “A escola está mais adaptada à nova carga horária, e os professores estão mais focados em metodologias ativas e buscando ideias inovadoras. No entanto, a escolha dos Itinerários Formativos pelos estudantes ainda é um processo em desenvolvimento, pois requer maturidade para decidir os caminhos a seguir”, ressalta.

Embora a escolha dos Itinerários Formativos ainda seja um desafio, a diretora destaca que a integração entre os estudantes, professores e unidades curriculares tem sido cada vez mais evidente. “Um exemplo colocado em prática este ano é a integração entre unidades de  Biotecnologia e Programação, um trabalho que inclui atividades de pesquisa, aplicação prática e até a criação de um site sobre o assunto, algo impensável em anos anteriores”, conta, e completa:

“A implementação tem proporcionado maior motivação aos alunos, enquanto a escola continua aprimorando suas estruturas e práticas pedagógicas, visando uma educação mais completa e alinhada com as demandas da sociedade contemporânea”.

Desafios e perspectivas

A implementação do Novo Ensino Médio no Paraná é um processo em andamento que tem enfrentado desafios em diferentes frentes. No entanto, para Abimael e Cristiana, os avanços conquistados até o momento são significativos. “As críticas ao novo modelo fazem parte do processo de mudança e devem ser acolhidas. Para isso, precisamos ter calma, serenidade e um pouco mais de paciência, aguardando e colocando em prática os instrumentos de pesquisa que nos ajudam no processo de escuta para, assim, tomar decisões fundamentadas”, destaca o coordenador.

Para ele, os principais desafios encontrados nessa transição são de natureza pedagógica, orçamentária e logística. “A diversificação curricular, a integração entre teoria e prática e a valorização do protagonismo estudantil são elementos-chave desse novo modelo educacional, que busca formar cidadãos críticos, reflexivos e preparados para a vida pessoal e profissional. Uma evolução só é possível com a participação e o apoio de todos os envolvidos nesse processo de transformação”, conclui.

Saiba mais sobre a construção curricular no estado

Para criar o Referencial Curricular do Ensino Médio alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Secretaria da Educação do Paraná trabalhou com grupos que mapearam a estrutura da rede e identificaram as necessidades de cada realidade escolar. Nesse processo, houve uma ampla discussão que envolveu gestores educacionais, professores, estudantes e a sociedade civil. “Foram realizados diversos encontros, fóruns e consultas públicas para discutir e construir coletivamente as diretrizes para a reformulação do currículo”, destaca Abimael Fernando Moreira, coordenador do Novo Ensino Médio na Seed-PR. Atualmente, os grupos de trabalho atuam analisando os resultados das consultas públicas periódicas e também monitoram as mudanças iniciadas em 2022 para identificar possíveis pontos de avanço.

Créditos das fotos: Lucas Fermin-Seed-PR

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