Por Tereza Perez (diretora-presidente da CE Cedac e integrante do Movimento pela Base)

Durante o 18º Fórum Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação realizado em setembro de 2021, participei da mesa de discussões sobre implementação dos novos currículos. Ao lado do MEC e da Undime, representei o Movimento pela Base citando o grande avanço das redes em relação aos currículos alinhados à BNCC – já são 92% dos municípios brasileiros – e mostrando a necessidade de os demais municípios realizarem a aprovação ou homologação dos seus currículos locais.

Embora a grande maioria das redes tenha seus currículos, com os desafios causados pela pandemia foi necessário realizar a flexibilização curricular e priorizar as habilidades e competências essenciais de abordar com os estudantes, construindo o continuum curricular. Esse processo gera muitas dúvidas, então por isso achei interessante elencar seis mitos e verdades sobre o tema:

Documentos curriculares não valem mais?

Os documentos curriculares são as referências, mas o continuum curricular busca flexibilizar o currículo porque, nesses momentos de pandemia, está sendo impossível cumprir todas as habilidades que estavam previstas. É preciso redefinir o que e como ensinar, e o que e como avaliar. Os Mapas de Foco da BNCC foram feitos para auxiliar nesse processo. A escola tem o papel de trabalhar para que todos aprendam, e isso não se traduz em passar por todas as habilidades, e sim identificar o que faz sentido às aprendizagens e garantir a continuidade das trajetórias escolares de estudantes.

Para a priorização, as redes deverão manter o currículo de referência e propor um novo orientador do trabalho. É importante implantar metodologias ativas, novos espaços de trabalho (como ações ao ar livre, por exemplo), alternativas de uso do tempo na escola e em casa, criar grupos de estudantes para que ajudem uns aos outros e os professores poderem atuar em função das necessidades de cada grupo.

O processo de flexibilização curricular deve ser feito pelas secretarias e disponibilizado aos professores?

As equipes das Secretarias Municipais de Educação (SME) devem coordenar e apoiar o processo, mas partindo sempre da diversidade de contextos das escolas para que faça sentido para quem, de fato, o implementa junto às crianças de Educação Infantil e dos estudantes do Ensino Fundamental. O currículo ocorre na escola, nas interações de estudantes com professores, entre si, e também com materiais didáticos e outros recursos pedagógicos.

Este momento é muito propício para pensar as implicações dessa flexibilização e envolver todos na busca de novas alternativas para um novo e velho problema: garantir o direito de aprendizagem e não deixar ninguém para trás.

 

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A escolha do que é prioritário no currículo pode ficar a cargo de cada professor?

O processo de escolha do que é prioritário deve ficar a cargo de toda a equipe docente, com orientação e apoio da equipe da secretaria, pois as escolas fazem parte de uma rede. A partir desta priorização, os professores ainda precisam fazer ajustes no planejamento da sua aula para a sua turma.

Para que faça sentido para todos, é fundamental que sejam garantidas condições para um planejamento colaborativo sobre o que priorizar em cada ano, ciclo e etapa. Além disso, precisarão ser asseguradas as condições de formação e discussão sobre os recursos para repensar rotinas e espaços.

Flexibilizar os currículos demanda acelerar as aprendizagens?
Não adianta querer acelerar as aprendizagens porque aprender requer tempo. Precisamos considerar as diferentes formas e tempos de aprender. Mas há necessidade de criarmos grupos de apoio para os alunos que encontram mais dificuldade em determinadas aprendizagens, algumas vezes demandam mais tempo, novas abordagens, estabelecimento de vínculo, de cuidado para que aprendam o que não conseguem fazê-lo por conta própria. A auto avaliação também contribui com o processo de aprendizagem.

O ensino agora precisa ser personalizado?

O continuum curricular está demandando que olhemos para uma nova organização temporal e que olhemos para cada estudante, verificando a melhor maneira de nos organizarmos para que todos usufruam do direito de aprender.

Isso não quer dizer que sejam aulas particulares, o que impossível e indesejado, mas é um olhar para como cada um está aprendendo e consequentemente ofertar situações que os façam evoluir positivamente. As atividades pedagógicas não presenciais ou remotas irão continuar, e precisarão ser ressignificadas na cultura escolar e ajustadas às condições de cada estudante, sendo uma excelente oportunidade para a oferta de situações de aprendizagem mais personalizadas. Dessa forma, o planejamento pedagógico propõe o que é mais potente de ser trabalhado com a mediação síncrona de professores e com os colegas e o que pode ser aprendido em casa ou em outros espaços da comunidade de modo mais individualizado.

As secretarias e os professores podem realizar avaliações diagnósticas?

A avaliação diagnóstica pode ser proposta pela secretaria, numa dimensão macro, de avaliação do sistema, com o propósito de orientar quais políticas públicas precisarão ser implementadas. Ela também ajuda a consolidar informações sobre as aprendizagens que foram ou não alcançadas.

A avaliação também precisa ser realizada no contexto da sala de aula, em conjunto com as autoavaliações, para identificar as aprendizagens dos estudantes e quem precisa de mais apoio. Dessa forma, é possível escolher as estratégias pedagógicas mais adequadas, considerando critérios para formação de turmas, seleção de materiais, agrupamentos produtivos, sequências de atividades, instrumentos de avaliação, atividades síncronas e assíncronas, entre outros.

Por fim, para lidar com toda complexidade que estamos imersos, é preciso manter
o bom humor e um olhar de mosca, que é multifacetado e enxerga inúmeros pontos de vista. Isso nos ajuda a ter um olhar mais humanizador. Lentes humanizadoras para nós e busca ativa! Não podemos deixar nenhuma criança, adolescente e jovem fora da escola.

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