Ensino Fundamental

“Já é perceptível o progresso na alfabetização das crianças, principalmente daquelas com defasagem mais acentuada”

Boas práticasEmbaixadores da BNCC
Professora relata desafios no processo e progresso na alfabetização após a retomada das aulas presenciais.

“Meu nome é Juliana Gomes Chagas e sou professora alfabetizadora em uma turma de 3º ano do Ensino Fundamental, na Escola Municipal São José, em Carmo do Cajuru, Minas Gerais. Sou profissional da educação há 24 anos e por 6 anos estive na Coordenação Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação. Desde 2021 faço parte do grupo de Embaixadores da BNCC. Em 2022 retornei à sala de aula! Ah, como eu estava com saudades das crianças, da escola, dos planejamentos, da didática! Que vontade de colocar em prática tudo que vivenciei com o processo de elaboração e implementação da BNCC e do Currículo de Referência de Minas Gerais (CRMG).

Hoje venho contar para vocês sobre os desafios no processo de alfabetização após a retomada das aulas presenciais. No início do ano escolar recebi de presente uma turma de 3º ano. Estava entusiasmada, então já no primeiro dia recebi aquelas crianças com muito acolhimento, alegria e brincadeiras, e principalmente com a intencionalidade de conhecê-las. Elas ficaram quase dois anos sem aulas presencias e praticamente pularam da educação infantil para o 3º ano. Quantos desafios!

Quando iniciamos o uso dos materiais escolares, era frustrante ver a dificuldade das crianças na organização espacial, na coordenação motora fina, no traçado das letras e dos números, na utilização adequada das pautas e páginas de cadernos e livros. Na primeira semana já foi perceptível o tamanho do prejuízo que os alunos tiveram em seu processo de aprendizagem escolar, em decorrência da pandemia.

Veja também: Recuperação das aprendizagens dos estudantes e formação dos professores em Carmo do Cajuru (MG)

Veja também: Live sobre os desafios do processo de alfabetização

Mas, apesar de tudo, percebia também a vontade das crianças e a felicidade delas em estar novamente na escola e o interesse em aprender e superar o tempo perdido. E eu, com entusiasmo para alfabetizar e colocar em prática as propostas das habilidades da Base e do Currículo Mineiro.

Sob a orientação da Secretaria Municipal de Educação, realizamos na rede, no início deste ano, uma avaliação diagnóstica inicial dos estudantes. Foi constatado que 30% dos alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental ainda não estavam alfabetizados, e com minha turma não foi diferente. Um terço dos meus alunos ainda não conseguiam ler e se encontravam no nível pré-silábico da psicogênese da escrita.

Após este diagnóstico, pôde-se pensar tanto em nível de rede, como de escola e sala de aula, quais estratégias seriam realizadas na tentativa de promover a recomposição das aprendizagens das crianças que já se encontram no final do ciclo de alfabetização.

Retomamos e revisamos com os estudantes as habilidades que deveriam ser desenvolvidas nos anos anteriores, através da flexibilização curricular com o objetivo de dar continuidade ao processo de aprendizagem dos alunos, a partir de onde realmente pararam. A equipe pedagógica da secretaria Municipal de Educação deu o suporte para os professores nesta estratégia, e ampliou a rede de apoio para atender aos estudantes com defasagens mais acentuadas, em pequenos grupos ou de forma mais individualizada.

Além dessa estratégia, iniciamos um projeto, denominado “Mobilidade”, que consiste em organizar os estudantes em diferentes agrupamentos para intensificar a intervenção pedagógica, principalmente nos componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática.

Na sala de aula, vivenciando a experiência de trabalhar com uma turma tão heterogênea, com alunos no processo inicial de alfabetização e outros leitores fluentes, de acordo com a proposta da escola, optei por desenvolver uma metodologia que trabalha tanto com uma rota fonológica (desenvolvimento da consciência de palavra, da consciência silábica, fonêmica e das rimas e aliterações), aliada à utilização de jogos e brincadeiras, como uma rota literária (que explora o letramento), com uso de diferentes gêneros textuais, avançando para o processo de leitura, compreensão e produção de textos, sempre procurando trabalhar de forma mais concreta, lúdica e significativa possível. A leitura é muito valorizada nas aulas, e diariamente realizamos a leitura deleite no início da rotina para que as crianças percebam a importância da leitura em nossa vida.

É importante ressaltar que já é perceptível o progresso de alfabetização das crianças, principalmente daquelas com defasagem mais acentuada. Percebe-se um avanço nos níveis da escrita, demonstrando que estão no nível silábico com valor sonoro e silábico alfabético. E as demais, que antes só conseguiam produzir textos de forma coletiva, tendo o professor como escriba, conseguem produzir pequenos textos de forma mais autônoma.

Sabemos que a alfabetização é um processo, e que cada criança tem um ritmo próprio na construção de seu conhecimento, mas com planejamento, intencionalidade, conhecimento de como a criança aprende e a execução adequada das estratégias necessárias ao seu desenvolvimento, vamos conseguindo avançar no processo de ensino-aprendizagem e diminuindo a defasagem na aprendizagem da leitura e da escrita. E é assim que me vejo hoje: uma professora feliz por estar totalmente disposta a fazer a diferença na vida dessas crianças e ajudá-las a superar as dificuldades, e quem sabe também inspirá-las a fazerem a diferença na vida de outras pessoas… Transformar vidas por meio da educação. Acredito que esse é o nosso papel de professores e professoras.”

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